<p>O presidente da distrital do Porto do PSD, a maior estrutura social-democrata do país, disse anteontem esta coisa : há no partido "militantes que preferem que o PSD perca eleições, para eles não perderem o controlo do partido". Marco António Costa não está sozinho na avaliação. O seu homónimo de Lisboa, Carlos Carreiras, pensa mais ou menos o mesmo, ao pedir o fim das "querelas" que impedem, supostamente, o PSD de assumir as suas "responsabilidades" enquanto maior partido da Oposição. </p>
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Os factos tendem a sustentar o desespero de Carlos Carreira e a ironia de Marco António: nos últimos actos eleitorais, muitos dos mais proeminentes militantes social-democratas "estiveram nos campos de golfe e nos sofás a tratar da vida deles", em vez de irem para a rua batalhar pelo partido.
Muita gente já desconfiava do estado abúlico e desorientado do PSD, mas ler descrições destas da boca de quem melhor conhece o partido chega a assustar. Porque isto traduz o real estado "laranja": é a escolha pelo "suicídio colectivo", para citar o tom angustiado recentemente escolhido pelo seu militante número um, Francisco Pinto Balsemão.
As elites social-democratas não estarão seguramente de acordo com a violência da análise. E mesmo que se revejam nela tenderão sempre a achar que os oráculos do partido encontrarão rapidamente a solução para a crise. Por exemplo: uma conversa com o "oráculo" Pacheco Pereira chegará, certamente, para encontrar a luz.
E vai daí talvez não. Se há coisa de que o partido não precisa é de construir teorias sobre isto e sobre aquilo, todas muito bonitas quando expendidas com linguagem mediática. Se tomarmos como exemplo a estratégia errática de Ferreira Leite, em que o "oráculo" Pacheco teve intervenção directa, será fácil perceber como nem sempre a teoria se agarra à prática. A culpa, claro, é da prática, nunca da teoria. E muito menos de quem a concebeu.
O problema do PSD é este: sendo um partido de estados de alma, é preciso quem tenha a força de pôr essa alma ao serviço do partido. O PSD passa, num instante, da euforia à depressão, da união à desagregação - é essa volatilidade que o torna num partido diferente .
O drama é que, nos últimos anos, a "nação" social-democrata tem escolhido vergastar-se a si própria. A autofagia trouxe o PSD até aqui: até ao ponto em que ou dá uma cambalhota que chegue para (re)animar as hostes, ou prefere continuar a ouvir "oráculos" que a primeira coisa que perguntam quando entram em campanha é o nome de hotel em que ficarão instalados e a marca do carro e a alcunha do motorista que os levará pelo país. A escolha parece fácil. Mas, na verdade, não é.
Resta desejar-lhes boa sorte, na exacta medida em que a sorte do PSD, dada a sua importância, está ligada à sorte do país.