Não é bom, nem é mau, é assim-assim. O Governo apresentou um Orçamento do Estado em que dá um bocadinho a quase todos. Seja aos cidadãos, seja às empresas. Seria suficiente se a crise acabasse já para a semana. O problema é que a crise não vai acabar para a semana e o diminutivo "inho" ameaça devorar o bocado que ainda possa sobrar nos orçamentos das famílias e das empresas.
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Veja-se que nem um dia passou e já o FMI atualizava as contas, apontando para um crescimento da economia que mais parece estagnação (e a caminho de uma recessão) ou para uma taxa de inflação à qual, pelos estragos deste ano e pela persistência no próximo, teremos de acrescentar um qualquer aumentativo. Para já não falar do desemprego, que, dizem os peritos, vai crescer.
Como disse o comentador Marcelo Rebelo de Sousa (a opinião do presidente da República há de ser conhecida lá mais para a frente, mais próximo da altura de o promulgar), é um Orçamento que corre o risco de não agradar nem a gregos, nem a troianos. Dito de outra forma, teremos um copo meio cheio até dezembro e meio vazio a partir de janeiro.
É verdade que as previsões valem o que valem, que é o mesmo que dizer que têm um tempo de vida curto. Sejam as do Banco de Portugal (veja-se a correção do boletim do outono face ao da primavera), sejam as do FMI (recordem-se os sucessivos falhanços dos anos da crise da década passada), sejam as do Governo (que supera sempre os objetivos de cobrança de impostos). A única coisa que sobra para quem tem de fazer contas, seja lá em casa, seja na empresa, é a incerteza.
Certeza só a de que, para este Governo socialista, o mantra são as contas certas. Ao ponto de estarmos a viver a terceira crise grave no espaço de uma década (a primeira foi a da bancarrota que trouxe a troika; a segunda a da pandemia) e mesmo assim se apontar para um défice de 0,9%.
Recuperando uma frase antiga do agora líder do PSD, Luís Montenegro, pode dizer-se que "a vida das pessoas não está melhor, mas o país está muito melhor". Ou seja, as contas das famílias e das empresas estão de pernas para o ar, mas as do Estado vão de vento em popa. Se esquecermos o pormenor de que o Estado existe para servir as pessoas, está tudo bem.
*Diretor-adjunto