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Durante décadas vivemos com cidades envelhecidas e edifícios quase em ruínas. Depois, veio o “eldorado” da requalificação acompanhado de um salto gigante no mercado turístico. De repente, em plena avalancha, descobrimos que somos um destino de eleição para os residentes de tantos outros países.
O dinheiro que nos chega pela via do turismo alimenta a economia e impulsiona o seu crescimento para valores que continuam a bater recordes. E até as autarquias descobriram o filão das taxas turísticas para aliviar o espartilho das contas municipais.
No lado inverso deste panorama - uma espécie face oculta do progresso alimentada a viagens baratas e carteiras recheadas de países com níveis de vida mais elevados -, estão as cidades a abarrotar de turistas, o caos no trânsito, os preços inflacionados e o impacto do alojamento local no mercado da habitação.
É inegável o peso avassalador do alojamento local no centro de cidades como Lisboa e o Porto, onde os residentes estão quase extintos e são cada vez mais empurrados para longe dessas zonas.
Esperar que o mercado, sozinho, regule estes desequilíbrios é permitir que o caos avance sem qualquer travão. Igualmente inútil é pensar que o problema se resolve com os municípios a abrirem e fecharem a torneira dos licenciamentos conforme a vontade do momento.
Talvez seja a hora de criar verdadeiras regras de planeamento urbanístico, organizando o espaço e as respetivas funções de forma equilibrada, permitindo que o alojamento local tenha a sua área de crescimento. E assumindo que habitação e alojamento local são negócios distintos e não duas faces da mesma moeda.