Organizações em entropia: entre o valor e a sobrevivência
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Entropia. “Tendência natural dos sistemas para a desordem, à medida que o tempo avança”. Tantas são as vezes que nos deixamos corromper pela passagem do tempo, seguimos cegos no conforto do conceito e cedemos à confusão natural que se vai instalando. E nas organizações? Será culpa do gestor, será culpa do consumidor, ou culparemos o tempo pela deterioração do sistema?
A verdade é que a desordem atinge níveis mais complexos do que o físico. A contabilidade deixa de ser, assim, o sinal mais alarmante, à medida que a confusão se alastra ao nível moral e cultural. É fácil seguir o que o mercado pede, perdendo-nos entre exigências e tendências, sem saber qual o princípio-base, os valores fundamentais que nasceram enraizados na visão da empresa. Moldam-se estas, como tal, às escolhas dos consumidores, cobertas pela lógica da rendibilidade. Resultado final? Um sistema isolado da sua proposta de valor.
O tecido empresarial português é fortemente dominado pelas pequenas e médias empresas (PME). Com estruturas mais flexíveis e decisões mais descentralizadas, estas têm uma maior capacidade de adaptação. Contudo, essa mesma agilidade, quando orientada exclusivamente pela sustentabilidade financeira, pode colidir numa perda significativa: a identidade organizacional. Em Portugal, onde estas empregam a maioria da força de trabalho, a exigência da sua sobrevivência é incontornável, tornando o risco da entropia organizacional uma realidade.
No entanto, explorando para além do senso comum, a verdade é que esta responsabilidade não é exclusiva das empresas. Como consumidores, não podemos simplesmente despir-nos do papel que desempenhamos. Cada escolha orienta o mercado. Não insinuo, contudo, que devamos consumir mediante os valores de cada empresa, mas sim sobre a lente da sociedade que queremos moldar. Se as empresas se guiam pelas nossas decisões, que as guiemos de volta aos seus valores, numa coerência interna alinhada com uma visão maior: a de uma sociedade sustentável.
Assim, talvez o maior contratempo à entropia seja, efetivamente, a energia, essa mudança que impede a desordem. É curioso como acreditamos que toda a ação exige movimento, ignorando o paradoxo de que parar também é agir. Pensar, refletir... talvez seja essa a verdadeira energia que combate esta entropia!