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Greves na CP. Na manutenção da CP. Dos médicos. Dos enfermeiros. Dos auxiliares. Greve no SEF, também nas horas extra da TAP. Greves dos professores e dos cientistas. Dos guardas prisionais. No metro de Lisboa. E muitas outras mais. O mês de abril vai ser assim. Na generalidade dos casos, está em causa a reivindicação de melhores salários e de mais regalias. Ponto comum aos trabalhadores cujos sindicatos as convocam: serem funcionários públicos ou equiparados e exigirem um esforço adicional do Orçamento do Estado para que as suas reclamações sejam atendidas.
Nada contra o direito à greve, os termos legais que a regulam ou a independência do movimento sindical. São pilares essenciais de uma sociedade justa e democrática. Mas tudo contra a irresponsabilidade, seja ela social, laboral ou política. E tudo contra a instrumentalização dos sindicatos para benefício partidário, num cenário em que é quase a CGTP que está no Parlamento e o PCP nos comités das empresas. Tudo, ainda, contra a manipulação leviana dos trabalhadores, que, em defesa de interesses que transcendem os seus, questiona sobretudo a viabilidade futura de muitos empregos.
Já para não falar dos funcionários (não públicos) que, por via da agitação de uma parte (sempre a mesma parte, como se sabe) do proletariado do Estado, se deparam com escolas fechadas (e filhos sem aulas), transportes públicos parados, consultas médicas desmarcadas, julgamentos adiados e cidades praticamente sitiadas. Cada greve, por mais justa que seja, é um abalo na produtividade nacional. Sendo o Estado grande e pesado, a economia não funciona sem o Estado, sem as suas repartições e sem os seus funcionários. Sucede que, infelizmente, os portugueses que querem e precisam de trabalhar todos os dias não podem fazer greve às greves da CGTP.
O sentimento em torno da reivindicação e da exigência fácil, alavancado, como agora se diz, no exemplo que vem do setor público, vem ganhando eco na sociedade. De um lado, temos um país quase em pleno emprego, a crescer, com devolução de rendimentos aos cidadãos. Do outro, ostentamos uma das mais baixas taxas de produtividade da Europa. Trabalhamos pouco (embora muitas horas). Ou seja, trabalhamos mal. Para termos melhores regalias, remunerações mais elevadas e mais horas de lazer, a receita é fácil, embora não conste do discurso dos sindicalistas: trabalhar melhor.
Já aqui tinha escrito, em fevereiro, que António Costa está sob chantagem dos radicais de Esquerda que apoiam o seu Governo. O Orçamento do Estado, equilibrado como nunca esteve, é um apetite. A má notícia, para este efeito, é que há eleições em outubro de 2019. Até lá, o aumento do número de greves vai ser proporcional ao crescimento desse apetite.
* EMPRESÁRIO E PRES. ASS. COMERCIAL DO PORTO