Corpo do artigo
A terceira idade é a parte da população portuguesa e europeia que faz mover tanto bancos como políticos, porque é aí que está grande parte do dinheiro e dos votos disponíveis, mas não tardará que sejam os bebés aqueles que mais determinarão o futuro. É simples: só o aumento da taxa de natalidade poderá porventura impedir a morte anunciada do modelo social em que assentam as nossas democracias de bem-estar.
Por achar esta ideia tão irrefutável é que não resisto a números sobre bebés, sirvam eles para o que servirem. Mais: acho que os políticos de futuro ou com futuro serão os que pensarem as nossas vidas a partir da questão demográfica.
Nesta edição do JN, o tema que domina a nossa capa é tremendo sobre quanto os números podem dizer-nos sobre uma questão política, além do mais com um peso afetivo tão forte quanto o do encerramento anunciado da Maternidade Alfredo da Costa.
Em boa verdade, não basta aos lisboetas argumentarem com a qualidade do serviço, assente no acumulado de qualificação de competências dos recursos humanos, para que a Alfredo da Costa se mantenha de pedra e cal. Porque os números são avassaladores: as maternidades de Lisboa têm uma capacidade instalada para fazer nascer 28 mil bebés, mas só nascem 21 mil. Por isso vai ter de ser abatida uma das maternidades, sendo que a Alfredo da Costa mora no prédio mais velho e por isso pareça estar mais a jeito para que seja minimamente cumprido o racional do binómio custo/benefício, o qual, a prazo, acaba por ser o garante de qualidade. Ainda assim, sem MAC, apenas 76 % da capacidade instalada para fazer nascer bebés terá serventia...
Noutro plano, mas ainda na política, quem vive no Porto sabe que, qualquer que seja o recorte da próxima reforma administrativa, a cidade só parará de definhar quando e se tiver mais nascimentos, mais população jovem e mais território para acomodar esse crescimento demográfico. Jovens e terra é do que o Porto precisa para ganhar músculo político.
É nesta lógica que tenho defendido neste espaço que a fusão do Porto com Gaia seria a melhor solução para criarmos uma cidade de média densidade europeia e uma nova porta de acesso ao Velho Continente através da nossa costa.
Tal como a Maternidade Alfredo da Costa, o Porto tem um conjunto de virtudes excelsas que infelizmente não resistirão ao tempo, caso não façamos nascer mais bebés. O problema é que o Porto já é tão da terceira idade que só poderá rejuvenescer com uma injeção de sangue novo.
Por isso mesmo é que nem reinventando a roda, fosse ela a da regionalização perfeita, esta cidade tão da terceira idade se salvará.
Só mesmo casando com Gaia e fazendo filhos.