Ouvir a forma como Jorge Braz fala do espírito de equipa e de como procura transportar para a competição os valores humanos que traz das raízes pode deixar-nos a sensação de alguma ingenuidade ou visão benévola da sociedade.
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O treinador que levou o futsal ao topo mundial acredita que os bons comportamentos conduzirão sempre a bons resultados. No fundo, que os bons vencem sempre. Sem que essa crença inabalável na humanidade impeça a ambição e a exigência que a competição implica: só com competência se chega ao pódio, liderando pelo exemplo, sublinha na entrevista que hoje publicamos.
Mesmo que fiquemos apenas pelo desporto, não faltam sinais de que os valores andam arredados da alta competição. Da violência ao racismo, passando pelos crimes de evasão fiscal e negócios duvidosos com que empresários e gestores têm tomado conta dos clubes, são muitos os motivos para desconfiar de que é possível vencer sem semear vícios pouco transparentes.
Transportando maus exemplos do desporto para o mundo dos negócios ou para a política, teremos sempre iguais dúvidas sobre a importância da ética e das boas práticas nos lugares de topo. Esse descontentamento com os vícios instalados é aliás parte do pasto que tem alimentado discursos descrentes com o estado de coisas e, pior, populismos e projetos extremistas.
No arranque de uma legislatura que traz novidades e riscos de radicalização do discurso na própria casa da democracia, vale a pena refletir sobre os instrumentos com que se combate o ódio, a xenofobia, a intolerância e a demagogia. É precisamente quando a agressividade tende a instalar-se que mais se exige serenidade, cabeça, a tranquilidade de quem sabe estar do lado dos valores certos. Todos os combates exigem firmeza e escolhas, mas não necessariamente estrondo e espetáculo. Acreditar convictamente que convocar o melhor de nós compensa é um desafio que nunca sai de moda. Mesmo que os bons nem sempre vençam.
*Diretora