<p>E pronto: os nossos credores começam a mostrar sérios (melhor: seríssimos) sinais de irritação e a acentuar as dúvidas quanto à capacidade de lhes pagarmos, mais cedo ou mais tarde, o que lhes devemos. Ontem, os juros que nos exigiram no mercado internacional para comprar as nossas obrigações do Tesouro atingiram um máximo histórico. Os investidores exigem agora 6,289% (!) para adquirirem dívida portuguesa. É como se a mercearia onde se abastece uma família obrigada a contar todos os euros todos os dias pusesse um travão às compras do agregado, a menos que ao talão final se acrescentassem juros...</p>
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Em bom rigor, infelizmente nada nos garante que os juros do dinheiro que o país pede, à razão de 2,5 milhões de euros a cada hora que passa, não continuem a subir. Um país obrigado a captar mais e mais recursos externos para poder pagar as facturas é um país que não se recomenda. E, nos mercados, a filantropia e o amor ao próximo são um delírio que só os loucos conseguem vislumbrar.
O trajecto que nos trouxe até aqui é conhecido. Os culpados, internos e externos, também. Os mais afectados também - basta olhar para o corte dado em vários apoios sociais para perceber quem verdadeiramente está a sofrer... A questão agora é outra: somos nós, povo secular, capazes de desatar o nó? Ou, susto dos sustos, vêm aí os malvados do Fundo Monetário Internacional FMI?
Resposta fresquinha do presidente da República, o mesmo que já nos garantiu, inúmeras vezes, conhecer os números das nossas finanças públicas: "O que nós temos é de fazer o trabalho que nos compete, cumprir os compromissos que assumimos por forma a reduzir as nossas necessidades de financiamento externo e não deixar problemas complicados para o futuro". Leio e releio a frase - e não consigo sentir ponta de alívio. Porquê? Porque, quando se olha para os avanços e recuos das políticas governamentais, ditados pelas circunstâncias e não pela estratégia que deve resultar de prioridades claras e consequentes, não se sente alívio. Sente-re receio. Porque, quando se olha para o que tem antecedido o desenho do próximo Orçamento do Estado, também não se sente alívio. Sente-se receio. Numa palavra: o país vive numa espécie de roda-viva em que tudo parece frágil e volátil e nada parece estrutural e consistente. Quando se chega a este ponto, fica-se perigosamente perto de nos depararmos com um país de braços caídos. E, aí sim, não sobra outra alternativa que não passe pela entrada em Portugal dos malvados do FMI.