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A transparência das grandes empresas sobre o valor dos impostos que pagam e as estratégias fiscais que utilizam ainda tem uma ampla margem de melhoria, tendo em conta que quase todas as que estão cotadas em bolsa têm contas fora de Portugal, onde a tributação é menos agressiva. A Comissão Europeia estima que a evasão fiscal na União Europeia ande por volta de um bilião de euros por ano, o equivalente à riqueza de cinco países como Portugal. Não é por acaso que todos os bancos a operar em Portugal têm sucursais em paraísos fiscais ou em jurisdições fiscais fracas.
A informação que os grandes grupos prestam sobre as suas atividades nos diversos mercados também não é completa, o que dificulta a identificação do rumo das suas operações. Claro está que estas estratégias fiscais não são ilegais, nem o é investir e estabelecer subsidiárias em paraísos fiscais, desde que as operações sejam reais e nada tenham a esconder. O problema é que, devido à opacidade dessas jurisdições e a difícil rastreabilidade de muitos movimentos, lançam sérias dúvidas sobre essas práticas tributárias, à medida que cresce a consciencialização e a informação dos cidadãos sobre estes esquemas usados para pagar menos impostos ao Estado.
A União Europeia tem dado passos relevantes nos últimos anos, pressionada pelos sucessivos escândalos descobertos graças a fugas de informação como o LuxLeaks, o Panama Papers e, mais recentemente, o Pandora Papers. Em 2021, a Comissão propôs uma diretiva contra as empresas de fachada, mas, por enquanto, anda perdida nos corredores de Bruxelas. A questão é que a União Europeia tem uma ação muito limitada enquanto não houver uma harmonização fiscal. Ou seja, todos os países membros terem uma política de impostos igual. Não é por acaso que estas tentativas têm frequentemente esbarrado pela oposição de países como a Holanda, Irlanda ou Luxemburgo. Exatamente os países onde as grandes empresas portuguesas estão presentes para fugir aos impostos. A única solução para estes “buracos negros” fiscais só pode ser alcançada por meio de um consenso internacional, um caminho que começou a ser percorrido, mas muito lentamente.