Mais que a nova dialética do diálogo protagonizada pelo novo ministro adjunto do primeiro-ministro, Miguel Poiares Maduro, inesperadamente, ou talvez não (a experiência é um valor sempre em acumulação, não é?), foi do contestado ministro da Economia que surgiu o sinal mais vinculativo da necessidade premente que o Governo sente de não se deixar isolar. Refiro-me ao regresso antecipado de Álvaro Santos Pereira, que acompanhou o presidente da República na viagem à Colômbia, para estar presente no Congresso da UGT, que hoje se inicia e em que será eleito um novo líder.
Corpo do artigo
Historicamente, o coração da UGT tem sido a coabitação de sindicalistas militantes ou simpatizantes do PS e do PSD. Habituadíssima que está a ter de negociar permanentemente com governos em que participam os partidos políticos representados nas suas duas grandes tendências, a UGT lida bem com o papel de fiel da balança."E, assim sendo, acaba por ser essencialmente sobre ela que recai a enorme responsabilidade de promover a mobilização ou desmobilização dos protestos sociais que mais podem doer aos governos, uma vez que é contestação que vem das suas próprias fileiras.
É nesta perspetiva que deve ser apreciado o regresso antecipado de Álvaro Santos Pereira, que terá avaliado bem o quadro em que a UGT vai substituir João Proença, o seu secretário-geral há quase 20 anos, por Carlos Silva , que, tal como o seu antecessor, integra a estrutura dirigente do PS.
Percebe-se bem que o ministro tente colar os cacos, uma vez que João Proença já declarou que a UGT saltará da concertação social se o Governo persistir em aumentar em dois anos a idade da reforma, o último dos pomos de discórdia. E que o novo secretário-geral já vai enunciando como programa a seguir: não deixar que os funcionários públicos sejam o bode expiatório da incapacidade de renegociar o memorando da troika e as taxas de juro a que estamos a pagar os empréstimos financeiros e não deixar que os cortes na despesa do Estado sejam realizados sobretudo através de despedimentos.
Será este ainda o tempo de colar os cacos? A resposta final, essa, virá certamente da UGT.
Por muito que queira seguir o elevado patamar de paciência política que marcou os 18 anos de liderança de João Proença, a situação com a qual se depara Carlos Silva já não é apenas de divergência sobre políticas. É ainda de profunda desconfiança. Desconfiança porque, em contraste com o perfil cumpridor da sua relação coma troika, o Governo não vai cumprir a determinação do Tribunal Constitucional e só devolverá o subsídio de férias aos trabalhadores e pensionistas em novembro, obviamente subtraídos dos novos descontos.