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O Liceu Pedro Nunes, em Lisboa, está a proibir o uso de “calções demasiado curtos” ou camisolas com “excessivo decote”, pedindo aos pais que os alunos usem “vestuário adequado” na escola, ameaçando mesmo que se utilizarem essas roupas nos dias dos exames de acesso ao Ensino Superior podem ser impedidos de os realizar. Uma atitude polémica que pode atentar contra a liberdade de expressão individual e que coloca muitas questões, algumas delas inscritas na Constituição. Em Portugal, é comum os colégios privados instituírem o uso obrigatório de uniformes e, apesar da tendência contemporânea de adotar vestuário unissexo, as escolas mais conservadoras continuam a implementar regras rígidas e a traçar distinções entre o fardamento masculino e o feminino. Na verdade, o uso de uniforme é, sobretudo, uma tradição anglo-saxónica e também um resquício do Portugal pré-25 de Abril, onde qualquer aluno era obrigado, não a um uniforme, mas a uma bata branca. Após a Revolução e a subsequente democratização do ensino, fizeram com que a bata deixasse de ser usada nas escolas públicas, mas algumas instituições privadas mantiveram regras para o vestuário dos estudantes. Isto porque continua a ser um símbolo distintivo, não entre as crianças entre si, mas, sobretudo, um sinal de distinção social para o exterior. Na verdade, a exigência de vestir roupa padronizada viola os direitos à liberdade de se expressar por meio do vestuário. Isto apesar de um uniforme escolar significar economia e praticidade. É que usar diferentes roupas todos os dias custa caro, sabendo-se de antemão as exigências dos adolescentes para estarem na moda. Geralmente, os uniformes são impostos aos alunos, que, mesmo tendo de usá-los diariamente, não têm qualquer participação na escolha. Cada um tem o seu jeito de ser, de pensar e de se vestir, mas com o uniforme, os alunos não podem expressar livremente a sua personalidade. Entre os benefícios ou as desvantagens de se usar um uniforme numa escola, não pode, no entanto, entrar-se em pormenores como proibir os alunos de fazerem exames por usarem uns “calções curtos” (qual é a medida adequada?) ou “um decote excessivo” (qual o tamanho?). É retrógrado e o bom senso deve prevalecer.