Há um ano, a Rússia invadia a Ucrânia e logo se percebeu que haveria uma guerra que se estenderia a todo o Ocidente. A proximidade geográfica da Europa ajudava a encarar esse combate como nosso.
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Do conflito, emergiu uma estrela, o presidente Volodymyr Zelensky, que, através de uma estratégia de comunicação muito eficaz, foi capaz de nos envolver numa causa que tomámos como comum. A verdade é que o tempo vai correndo, a situação não melhora e ninguém parece conhecer a fórmula para pôr fim à brutal invasão.
A revista "The Economist" procurava ontem traçar o futuro da Ucrânia. Sem sucesso, porque tudo é muito imprevisível. Como se percebeu melhor (ainda) esta semana, o presidente russo está a endurecer o discurso e procura mobilizar o seu povo para uma guerra longa. Se não existirem desenvolvimentos na esfera diplomática, poderão chegar as eleições americanas e, com elas, um novo presidente. Significará isso uma ação mais decisiva, quiçá mais ativa no terreno? Ou, pelo contrário, um maior alheamento, deixando a Ucrânia ainda mais nas mãos dos europeus ou, então, entregue a si própria?...
É provável que Kiev reclame por armas durante muitos mais anos, mas não se pode ignorar que as necessidades atuais colocam já sérias dificuldades à defesa nacional de vários países, que não querem desproteger-se. A revista "The Spectator" fazia ontem capa com essas limitações, assegurando que as forças armadas britânicas estão esgotadas, sobretudo na capacidade para fornecer apoio bélico. Este é o risco de um conflito longo.
A outra dimensão é o apoio financeiro regular de que a Ucrânia necessita. Como os recursos não são inesgotáveis, a passagem do tempo tende a dificultar esse fluxo de dinheiro. Poderemos mesmo assistir a um efeito de cansaço das democracias ocidentais e, com ele, a uma diminuição do apoio popular à nação invadida.
Como todas as guerras, também esta terá de acabar. Logo se verá, no apuramento dos ganhos e perdas, o que fica. Para já, há duas realidades opostas que podemos dar como certas. A primeira é que a Ucrânia, que não é historicamente um país campeão da democracia, terá percebido em definitivo que um futuro de paz e prosperidade passa pela aliança e cooperação a ocidente. A segunda é que a Rússia perdeu o benefício da dúvida e será considerada, nas próximas décadas, um parceiro não fiável e capaz das maiores atrocidades. O seu povo tenderá a ser ostracizado e o país ficará isolado por muito tempo, o que também não é bom para o Mundo, nem para a Rússia pós-Putin. Entre um e outro país, a faixa fronteiriça não será jamais um espaço de boa vizinhança.
*Professora associada com agregação da UMinho