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O que se tem ouvido da boca do três candidatos à liderança do PSD não chega para animar a alma dos que, como eu, consideram fundamental a existência de um partido que sirva, a todo o momento, de alternativa sólida ao poder instituído. Não é que, pelo perfil e experiência dos contendores, fosse de esperar uma disputa politicamente substantiva. Mas seria de esperar que Paulo Rangel, José Pedro Aguiar--Branco e Pedro Passos Coelho se esforçassem por nos mostrar que estão à altura do que, dada a actual conjuntura e a que se adivinha, lhes pode cair nos braços: o governo do país, simplesmente.
A verdade é que dos debates e das conversas afins que os três nos têm proporcionado não brotou, até hoje, nada de muito estimulante.
As intervenções televisivas de Paulo Rangel têm roçado a catástrofe. O "killer instinct" que mostrou, a espaços, na liderança da bancada parlamentar desapareceu, as propostas de ruptura ou são tontas (exemplo: a criação de um secretário de Estado para mandar em cada uma das cinco regiões do país) ou são inúteis. Rangel está longe de ter a preparação necessária para o desafio que se propôs enfrentar. Deu, claramente, um passo maior do que a perna, coisa que acontece amiúde aos que se julgam muito acima do comum dos mortais.
Aguiar-Branco abandonou a pose seráfica e tem sabido calibrar os pares sobriedade e exigência, arreganho e transparência. Problema: falta-lhe o suplemento de alma que ajuda os indecisos a decidir-se. Para isso, ajuda ter ideias claras sobre o percurso a trilhar e os problemas a contornar. Se Aguiar-Branco as possui, não as tem conseguido expor.
Olhando para este panorama, Pedro Passos Coelho tem usado a estratégia mais inteligente. Sabendo que tem a mercearia do seu lado, muito por causa do trabalho realizado a partir do Porto, o candidato que anda há dois anos a fazer a rota da carne assada mantém-se com a serenidade de quem sabe que são os adversários que estão obrigados a estugar o passo. Basta-lhe não correr muitos riscos nem embarcar em aventuras para não desiludir os largos apoios já conquistados. Vencerá por mérito seu ou demérito dos opositores? Um pouco das duas coisas.
O país ficará politicamente mais rico depois da contenda entre os sociais-democratas? Sim e não.
Sim, porque, pelo menos, haverá um período de estabilidade (curto ou longo, saberemos mais tarde) no principal partido da Oposição.
Não, porque, a avaliar pelas últimas sondagens, apesar de considerarem que José Sócrates mentiu no Parlamento a propósito do caso PT/TVI, os portugueses continuam a dar a vitória ao PS. É um paradoxo? É. Como se explica? Com o facto de os eleitores não verem, por muito que procurem, alternativa ao actual primeiro-ministro.