Adenúncia vinha documentada com foto na primeira página do Jornal de Notícias de ontem: há agentes da PSP a dormir numa esquadra do Porto em sacos-camas colocados em cima de cartões pousados no chão, tal qual os sem-abrigo que tantas vezes são chamados a ajudar nas ruas. A imagem dos polícias, provavelmente do lote dos que "aguentam", é chocante.
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Ela revela a forma como um Estado de Direito - no caso o português - trata aqueles que zelam pela segurança pública e, dessa forma, pela consolidação da democracia. Um valor que deveria ser particularmente relevante em tempos de crise. Uma sociedade democrática jamais pode prescindir da sua polícia e menos ainda num tempo de tensões sociais tão latentes como os que agora vivemos. Apesar disso, os casos de degradação na PSP portuense não são novos. Nem tão-pouco exclusivos deste comando metropolitano.
Já todos lemos notícias sobre o parque automóvel envelhecido ou degradado que compromete as patrulhas nas nossas cidades. Também já tínhamos ouvido falar de esquadras a cair aos pedaços, colocando em perigo quem lá trabalha ou acorre. Ou da falta de equipamento de segurança que põe em causa a integridade física dos polícias em situações de risco. Ou ainda de computadores obsoletos, de comunicações que falham... Mas ao retirar das esquadras camas, obrigando agentes a descansar após um turno de trabalho em cartões no chão, as chefias da Polícia atingiram um nível superior de desrespeito pela dignidade pessoal - e, consequentemente, profissional - dos polícias. Ao fazê-lo, desprezaram o facto de a Polícia ser, nas sociedades ocidentais, uma espécie de superego que marca aquela linha ténue que divide o caos da ordem. E o garante da proteção dos nossos direitos enquanto cidadãos.
Enquanto isto, em Lisboa, Álvaro Santos Pereira anda entretido a redigir um despacho com o qual pretende reduzir drasticamente o número de viaturas e motoristas ao serviço de empresas e institutos do Estado. No contexto da mesma crise que está a depauperar as condições profissionais e humanas dos polícias, poderia achar-se que a medida do ministro da Economia seria pacífica e até bem acolhida por todo o executivo de Pedro Passos Coelho. Mas, segundo nos contou também ontem o Público, não é.
Por se tratar de um despacho, o documento que Álvaro redige com tanto empenho não só não precisa de ser aprovado em Conselho de Ministros, como poderá ser aplicado a empresas e institutos não tutelados pela Economia. E será esta a razão do desconforto que a iniciativa do ministro estará a provocar entre os seus pares. Ou seja, o esforço na redução da despesa pública nos pequenos gastos (que não serão tão reduzidos quando se fala em viaturas e motoristas do Estado) parece não ter adeptos indefetíveis no Governo. Já na PSP do Porto tem um fervoroso seguidor....