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1. O Brasil libertou-se, até ver, de um caudilho. Na presidência de um dos mais importantes países do Mundo deixará de estar um misógino, um racista, um homofóbico, um corrupto. Um extremista de Direita (muito aplaudido pelos que temos por cá) que despreza os direitos humanos e a democracia. Com o trabalho dos seus apóstolos nas redes sociais somado ao dos pastores evangélicos nos templos, converteu quase metade da população ao seu sonho distópico. A sua derrota justifica festejos, mas sem euforia. Desde logo, porque o novo presidente também carrega sobre os ombros a suspeita da corrupção. Lula só em parte foi absolvido, a maioria dos processos ou foram suspensos ou prescreveram. Foi o suficiente para travar Bolsonaro, mas, para além da fragilidade pessoal (milhões de brasileiros mais não fizeram do que escolher o que consideram ser o mal menor), a base de apoio político-partidária de Lula é pouco sólida. A luta pela recuperação de uma democracia funcional está no início. E os seus inimigos continuam à espreita. No Sul e no Norte do continente.
2. Depois da maior potência da América do Sul, será a vez da maior potência da América do Norte (e do Mundo) ir a votos. E o que se passa nos EUA é a melhor prova de que a ameaça sobre as democracias é permanente. Nas eleições da próxima semana não está em causa a presidência, mas pode estar em causa a sobrevivência do regime democrático americano. A afirmação não é exagerada. Porque é real a possibilidade de os republicanos voltarem a controlar o Congresso (seja a Câmara dos Representantes, seja o Senado ou até ambos) e porque a maioria dos republicanos de hoje já não são políticos clássicos de centro-direita. Converteram-se ou foram substituídos por uma panóplia de misóginos, racistas e homofóbicos. Gente que insiste que os "pedófilos" democratas "roubaram" a presidência a Trump. A extrema-direita cresce nos EUA e fará o que for preciso para recuperar o caudilho do Norte.
*Diretor-adjunto