O presidente da República escolheu passar o ano na ilha mais pequena dos Açores. Porque sabe que, com ele, o centro é sempre um lugar nómada. Optou também por falar ao país não no horário nobre das televisões, mas à hora do almoço. Porque a sua mensagem de Ano Novo ocupará sempre o topo dos alinhamentos informativos. E dirigiu-se a todos: povo e elites, Governo e Oposição. Porque Marcelo Rebelo de Sousa está já com o olho num segundo mandato.
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Logo a abrir a sua intervenção, o PR enalteceu "a sensação única" de estar ali, "num dos pontos mais longínquos do território físico do nosso Portugal, na ilha do Corvo", a dirigir-se aos portugueses, procurando assim abraçar esse território espiritual que tanto tem acalentado neste mandato. "Um ano melhor é o meu voto amigo", desejou. Aí está Marcelo a renovar o compromisso com o povo, firmado desde o discurso da sua tomada de posse. "É para Portugal, para cada portuguesa e para cada português, que vai o meu primeiro e decisivo pensamento. Feito de memória, lealdade, afeto, fidelidade a um destino comum", assegurou a 9 de março de 2016. Marcelo sabe bem que a sua legitimidade se ergue a partir do povo com quem vai tecendo uma relação próxima e cúmplice. Que lhe renderá sempre muitos votos.
No dia em que o primeiro-ministro deixou neste jornal uma mensagem para "uma década decisiva", o presidente da República lembrou os 900 da nossa história, dizendo que devemos rasgar sem medo o futuro. As prioridades de um e de outro são semelhantes: apostar na saúde, combater as desigualdades, reduzir as assimetrias... Cá estão o Dupond hiperativo e o Dupont hiperotimista a prometerem mais um ano de uma coabitação pacífica. Porque ambos continuam a precisar um do outro. Marcelo sabe que a sua caminhada para um segundo mandato em Belém será facilitada se o Partido Socialista não apresentar nenhum candidato nas próximas eleições presidenciais. Por isso, convém não hostilizar. Mas também é preciso valorizar a Oposição. E o PR não se esqueceu disso. Lembrou que este Governo não tem maioria absoluta, devendo, por isso, ser "dialogante" e falou da necessidade de uma "Oposição forte e alternativa ao Governo". A reação dos diferentes partidos fez perceber que os intentos do previdente Marcelo tinham sido alcançados.
E aqui está o presidente já em campanha. Como Leonete Botelho e eu escrevemos no livro "Marcelo, presidente todos os dias", um PR que sela assim um compromisso com os portugueses e procura o consenso entre partidos nunca poderá virar costas a um segundo mandato.
*Prof. Associada com Agregação da UMinho