Os custos do desinteresse
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Muitos de nós, ao longo do mês de agosto, tradicionalmente, metem-se num carro e viajam. Se o destino não for propriamente perto de nós de autoestradas, quando fazemos estradas nacionais ou municipais, vamos encontrando surpresas - umas boas, outras nem tanto.
Há surpresas boas quando descobrimos praias fluviais acolhedoras, com bons lugares de estacionamento e inclusive com um fluxo agradável de outros turistas. Outras boas surpresas acontecem na diversidade de feiras com expositores muito preparados, bem informados e agradados. Para lá dos habituais locais de interesse em localidades percorridas (igrejas, capelas, castros, castelos, etc.), vamos sentindo também esplanadas dinâmicas que, como oásis em tardes abrasantes, possibilitam paragens refrescantes.
No entanto, também com elevada probabilidade, encontramos surpresas menos agradáveis. Com ou sem timidez, quase a cair num largo principal, há sempre uma casa devoluta com janelas partidas e telhados tombados, há sempre um casario abandonado ao largo da paisagem, com heras e outras vegetações que, na falta de melhor, abraçam o que restou de outras vidas e de outros investimentos.
Razões para o abandono do património - sejam casas, terrenos, maquinaria ou outro capital não fungível - não são novas. Dividem-se em duas - as que recaem na ótica do responsável e as que recaem no ónus da responsabilidade. Nas primeiras, os proprietários, herdeiros ou usufrutuários desinteressaram-se das coisas. Ou porque esquecê-las compensa (como sabemos todos os que estudamos a Economia do Esquecimento), ou porque já não têm forças (mentais, físicas, morais ou financeiras) para reparar e reutilizar, ou porque a associação àquele património deteriora a imagem que querem manter junto dos amigos de outras paragens. Dentro do segundo grupo de causas, temos vários fatores. Nomeadamente, as multas por negligência patrimonial serem muito mais baixas que os custos privados do abandono, ou então porque a promoção dos eventuais retornos daquele património é escassa ou inexistente, ou também porque outros o fazem, diminuindo o custo da opção exclusiva.
Um património abandonado tem essa leitura romantizada para os mais sensíveis - é uma recordação baça de um lugar que foi querido, que acolheu segredos, paixões e dias pares e dias ímpares. De qualquer modo, é uma imagem do investimento, de qualquer investimento. Que muitas vezes perde valor por questões de ciclo económico, de ciclo de vida e de ciclo de regulação.