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O ruído, daquele com muitos decibéis, faz parte do ADN do Partido Socialista. No PS-Porto, o ruído não faz parte apenas do ADN da estrutura - o ruído "é" o PS--Porto e o PS-Porto "é" o ruído. Para que não haja equívocos: há bom ruído, mas a barulheira criada pelos socialistas do Porto (por uma importante parte deles, para ser mais correto) é uma barulheira tipo bandalheira: ninguém se entende, tamanha é a confusão criada.
Os números (que supostamente não enganam, como o algodão) provam à saciedade os efeitos do ruído - nos 16 concelhos da Área Metropolitana do Porto, o PS lidera em... 4 (Santo Tirso, Matosinhos, Vila do Conde e Trofa). No passado, já algo longínquo para tristeza do PS, a contabilidade era bastante mais equilibrada.
Mesmo com a tragédia política dentro de portas, o PS-Porto é incapaz de estudar, pensar e discutir no recato. Último episódio: Manuel dos Santos, o mandatário de José Luís Carneiro, que disputa a Distrital do Porto com Guilherme Pinto, resolveu dizer, a três dias das eleições, que, afinal, o nome de Manuel Pizarro não é consensual, enquanto putativo candidato à presidência da Câmara do Porto. Pequeno pormenor: Carneiro e Guilherme já há muito disseram que Pizarro é o "seu" candidato. Médio pormenor: Carneiro devia ter retirado, imediatamente, a confiança política a Manuel dos Santos, agradecendo-lhe os serviços prestados, mas afastando- -se deste erro clamoroso que o prejudica. Grande pormenor: Manuel dos Santos representa o pior do PS (politicamente falando, claro) - o PS das guerrinhas internas, dos ódios viscerais e cordiais que sacrificam os objetivos para satisfazer vinganças adiadas.
A dinamite desta confusão, que Manuel dos Santos tentou ontem apaziguar com um mal-amanhado comunicado, chama-se Fernando Gomes. A entrevista concedida há dias ao Porto Canal, em que, ao fim de um ror de anos, o atual administrador da Galp reconheceu ter-se esquecido de pedir desculpa aos portuenses por ter trocado a Câmara pelo cargo de ministro, serviu a muitos para meter intriga onde era necessário fazer "sangue", uma vez que a candidatura de Manuel Pizarro à Câmara seguia em águas estranhamente calmas. Era preciso ruído, porque sem ele o PS não sobrevive.
O ruído, que em certo sentido aproveita a Manuel Pizarro, porque permite clarificar as águas e ver onde estão os "snipers" de ocasião, tocou, no entanto, o patético. Além de se ter sido cogitado o eventual regresso de Fernando Gomes à Câmara - o D. Sebastião de muitos, que nele veem a única figura capaz de derrotar o temível Luís Filipe Menezes -, também Júlio Magalhães, diretor do Porto Canal, entrou na dança. Não está mal...
Do lado de lá do rio, alguém há de estar a rir-se a bom rir. O PS é uma festa. Ruidosa, mas uma festa.