Com a liderança consolidada, Rui Rio pode agora concentrar-se em clarificar perante o país o seu projeto político. Eis os três principais desafios que enfrenta:
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1. Depois da bancarrota e da consequente austeridade, o sucesso do programa de ajustamento e a conjuntura internacional trouxeram a recuperação económica, de que este Governo beneficia e que procura atribuir às suas próprias políticas. O PSD tem de oferecer uma outra leitura (verdadeira) do que se passa. Essa leitura é simples: Portugal atrasou-se. Nestes quatro anos fomos ultrapassados por outros países europeus na riqueza que produzimos e no poder de compra dos portugueses. E as nossas contas externas estão a regressar a um desequilíbrio perigoso. Isto não é um sucesso, é um atraso. E um desperdício do esforço que coletivamente fizemos. Rio deve associar a isto uma proposta política diferenciadora, que nos permita ultrapassar os outros em vez de ser ultrapassados. Rio pediu tempo e apresentou uma metodologia para o fazer: as propostas do Conselho Estratégico. Mas será fundamental encaixar essas propostas numa visão política global para o país.
2. Rio valoriza muito o consenso. Há quem veja nisso o sentido de Estado necessário a promover a continuidade necessária, através de diferentes ciclos políticos, em certos aspetos estruturantes das políticas públicas. Mas há quem o entenda como uma aproximação política ao PS e a um seu Governo. Isso seria mau para o PSD e, sobretudo, para a nossa democracia: conduziria o regime a uma mexicanização (com o PS permanentemente no poder através de coligações de geometria variável) e reduziria as alternativas políticas ao radicalismo. Rio pode esclarecer esta questão. O fracasso dos consensos obtidos até agora tornam claro que António Costa tem uma visão oportunista dos consensos políticos: Costa não está interessado nas políticas mas apenas nos ganhos políticos. Rio não deve ficar refém de compromissos que não sejam assentes em princípios mas apenas no oportunismo. Deve antes usar o capital político que ganhou com essa disponibilidade para expor esse oportunismo.
3. O PSD perdeu uma parte importante do seu eleitorado tradicional. Muitos parecem entender que a mensagem política do partido se deve concentrar na reconquista desse eleitorado. A pouca atenção dada à agenda do eleitorado mais jovem parece resultar da convicção de que esse eleitorado não vota. Mas talvez faça mais sentido o PSD apostar em conquistar a enorme parcela de eleitorado que não vota do que acreditar na reconquista de uma grande parcela do seu eleitorado anterior...
*Professor universitário