Os desafios do Ensino Profissional
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Uma notícia vinda a público recentemente nos órgãos de comunicação social dava conta de que há menos mil estudantes nas vias profissionalizantes, do que no ano letivo transato.
Outra notícia, baseada em estudos sobre o Ensino Profissional em Portugal, dava conta de que os alunos que frequentam esta via não querem ir além do Ensino Secundário. Estamos a falar sobretudo de jovens com baixo desempenho escolar e, em muitos casos, provenientes de contextos socioeconómicos desfavoráveis.
Existem seguramente razões para este cenário, que é reconhecidamente contrário às necessidades do país, e até aos interesses de muitos jovens, sobretudo daqueles que são tecnicamente bons e que procuram carreiras profissionais compensadoras, desafiantes e motivadoras. Mas até estes, na hora de decidir, parecem optar pelo Ensino Secundário regular.
É sobejamente sabido que o valor social atribuído ao Ensino Profissional é francamente baixo e, tal como nas marcas comerciais, um produto avaliado com um baixo valor não desperta a atenção nem cativa o consumidor.
O distanciamento entre o ensino e as empresas, ou seja, entre os conteúdos programáticos e as novas tendências profissionais e técnicas, bem como o desajustamento entre a oferta formativa disponível e as reais necessidades das empresas locais são razões óbvias para esta perceção negativa.
Titulava a Rádio Renascença, em junho deste ano, que “Não há maneira de o Ensino Profissional conseguir dar o salto”, mas, na minha opinião, há sempre forma “de dar a volta ao texto”.
Defendo, desde logo, a criação de conselhos intermunicipais de formação, onde tenham assento escolas, empresas e autarquias, com autonomia na definição dos cursos e respetivos conteúdos programáticos. Conduziriam o processo desde o levantamento das necessidades e a conceção dos referenciais, passando pela implementação de oferta concertada e a gestão do financiamento, até à monitorização do processo.
Esta abordagem resultaria em processos mais rápidos e flexíveis, respostas formativas mais ajustadas às necessidades das empresas e no desenvolvimento de planos de orientação vocacional mais eficazes.
Fruto de um trabalho local de vários anos, a rede de formação e educação de Vila Nova de Famalicão tem desenvolvido um trabalho de grande relevância, com resultados validados e reconhecidos a nível nacional, pela atuação conjunta e concertada na definição de objetivos e metas a alcançar nos domínios da educação e da formação escolar e profissional a nível local.
Mas este trabalho está limitado pelas regras gerais nacionais, que não correspondem às especificidades de cada região do país, e são limitadoras e impeditivas da implementação de ações que de facto façam a diferença.
Vale a pena pensar nisto.