Os desconcertos do Mundo!
A recente coligação, criada pelo presidente dos Estados Unidos da América para combater o denominado "Estado Islâmico", está de pé e já entrou em ação sobre o território da Síria que, todavia, os aviões dos aliados franceses - provavelmente porque ainda reconhecem algum significado relevante às fronteiras dos estados soberanos - se abstiveram até agora de bombardear. Já fomos avisados de que, à medida que os terroristas do "Estado Islâmico" procurem refúgio em zonas mais densamente povoadas, irão crescer as dificuldades das operações típicas destas novas modalidades de guerra, com o fatal agravamento dos "danos colaterais" provocados quer pela "cegueira" dos "drones" (as aeronaves não tripuladas) quer pelos bombardeamentos "cirúrgicos" e pelos "assassínios" seletivos. É portanto previsível que também o número de vítimas inocentes cresça em breve, exponencialmente! E assim se perpetua a espiral de brutalidade e ressentimento que ameaça submergir também um presidente americano que outrora inspirou o Mundo com luminosas esperanças. Desgraçadamente, o Ocidente parece incapaz de tirar lições dos seus amargos falhanços e persiste na repetição penosa dos mesmos erros.
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Destas deficiências de aprendizagem se ressentem igualmente os nossos governantes. Um mês depois, ainda há alunos sem aulas por falta de professores e o normal funcionamento dos tribunais continua comprometido pelo colapso do sistema informático. Como se não bastassem os problemas na educação e na justiça, onde tarda uma solução, foi também anunciada a estreia de um novo folhetim. Pedro Passos Coelho, outrora tão vigoroso na denúncia das "gorduras" do Estado e no combate ao desperdício dos dinheiros públicos, não se apressa a esclarecer suspeições que ameaçam seriamente a sua reputação pessoal e a credibilidade das funções públicas que desempenha. Em 1999, o atual primeiro-ministro concluiu mais um mandato de deputado na Assembleia da República e, segundo a Comunicação Social, teria recebido um "subsídio de reintegração" que, logicamente, só faz sentido que seja atribuído a quem deixou de exercer as suas atividades profissionais anteriores, interrompidas por força do serviço público inerente às responsabilidades de representação democrática que lhe foram conferidas pelos eleitores. Ficamos a saber que o governante pediu à Procuradoria-Geral da República que investigasse o caso, como se o assunto se resumisse a minudências do respetivo enquadramento jurídico, à eventual tipificação criminal e correspondentes efeitos processuais. Não sendo verosímil que Passos Coelho se tenha entretanto esquecido dos atos que praticou ou omitiu, pretenderá agora furtar-se às explicações que nos deve, transferindo o seu problema do plano subjetivo da consciência, da responsabilidade individual e da prestação de contas para o âmbito objetivo de uma qualquer tecnicidade jurídica a ser apurada por instâncias especializadas? Esperemos que não se trate apenas de um expediente para ganhar tempo, um tempo que corre, infelizmente, por conta da credibilidade dos agentes políticos e da nossa democracia constitucional.
Também o principal partido da Oposição dá sinais de desconcerto. Colaborei com muito gosto, ao longo dos últimos três anos, com a atual direção do Partido Socialista e o seu secretário-geral. O facto de ter apoiado o candidato derrotado no congresso que o elegeu em 2011, nunca prejudicou um relacionamento leal e construtivo. Caso António José Seguro acreditasse realmente que o desafio de António Costa à sua liderança era uma traição alimentada pelo mais cego egoísmo e desmesurada ambição, nada o obrigava a convocar o congresso extraordinário reclamado pelos opositores e, com efeito, na plenitude dos seus poderes de secretário-geral, não o convocou! Mas se a ambição pessoal de um militante que ele insiste injustamente em tratar como "traidor" não justificava um congresso extraordinário, muito menos justificaria a convocação dos militantes e dos simpatizantes do PS para escolherem o candidato do partido a primeiro-ministro em eleições primárias! Mas lamentavelmente, foi isso o que fez, defraudando as expectativas generosas de 150 mil simpatizantes que se mobilizaram para as "primárias", com a exibição confrangedora das supostas intrigas e conspirações "invisíveis" a que estoicamente se ofereceu como vítima.
