Os desnecessários equívocos de comunicação do Governo
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Seria prudente o Governo promover uma reflexão interna sobre a estratégia de comunicação que vem adotando. Por inabilidade discursiva ou por má escolha dos contextos, alguns governantes protagonizaram deslizes que transformaram boas decisões em momentos políticos muito criticados. Algumas vezes, a forma ou os elementos envolventes apresentaram-se a tal ponto desadequados que apagaram qualquer sinal positivo. A comunicação ao país que o primeiro-ministro protagonizou anteontem à noite, no horário nobre das televisões, não foi um exemplo isolado, embora tenha sido excessivo e dispensavelmente visível.
Sendo a segurança um tema sensível, impõe-se muita ponderação com aquilo que se comunica a esse respeito. Porque facilmente as mensagens, sobretudo as disseminadas por meios de Comunicação Social, criam quadros de perceção social que depressa evoluem para sentimentos de insegurança. Que é aquilo que Governo e forças policiais devem evitar. Ora, na quarta-feira à noite, criou-se um quadro altamente arriscado.
Quem olhasse apenas para os ecrãs via um primeiro-ministro de rosto fechado, ladeado pelas ministras da Justiça e da Administração Interna e por personalidades de relevo das forças de segurança. A mensagem não verbal era inequívoca: a situação seria de enorme gravidade. Sucede que não era de todo assim. Seguindo as palavras de Luís Montenegro, Portugal estava quedo e posto em sossego, mas, para garantir essa quietude, convinha haver investimento e ali estava o primeiro-ministro a anunciar 20 milhões para viaturas das forças de segurança. Sendo essa iniciativa deste Governo ou do anterior, merece decerto a concordância de grande parte de nós, mas tal decisão não implica, de todo, aquele aparato comunicacional. Porque tem efeitos contraproducentes que se perceberam de imediato e que ganharam grandes proporções a seguir, como aconteceu ontem através das reações de todos os líderes da Oposição.
É tempo de o Governo compreender que a comunicação exige outro cuidado. A vários níveis: nas comunicações ao país, nas conferências de imprensa, nas declarações que os governantes fazem aos jornalistas ou naquilo que se publica nas redes sociais. Cada um destes domínios exige uma estratégia pensada, articulada e em consonância com aquilo que será, pelo menos, o básico do respetivo ato comunicacional. Por exemplo, uma conta nas redes sociais, cuja comunicação se faz em modo síncrono com aquilo que acontece, não pode ter publicações com um desfasamento de dias quanto ao acontecimento que reporta. E não pode, de todo, conter erros de conteúdo e de sintaxe. Pior do que não comunicar na altura e na proporção certas, é fazer isso de forma errática e inexata.