Março é o mês da mulher, com o dia 8 consagrado como o Dia Internacional da Mulher pela Assembleia Geral da ONU, em 1977, embora desde 1975 viesse assinalando a data.
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É relativamente recente este reconhecimento internacional, que vai buscar as suas raízes históricas a manifestações de mulheres trabalhadoras fabris, reivindicando melhores salários e condições de trabalho, que tiveram lugar nos princípios do século XX, na América e na Europa. É longo e desafiante o caminho de luta pela igualdade de género. Verificam-se avanços gratificantes e retrocessos desoladores! E há muito ainda por fazer. Sinalize-se a situação da mulher em alguns países islâmicos: mutilação genital feminina, violência e tratamento pessoal, social, religioso e político humilhante.
Nomeadamente, as mulheres no Irão e no Afeganistão atravessam hoje renovada e sufocante submissão ao poder das trevas. Elas estudaram na Europa e na América, obtiveram licenciaturas e doutoramentos nas várias áreas do saber, ocuparam lugares fundamentais na vida familiar, social e política para, agora, retrocederem à obrigação das burkas, ao espaço delimitado do lar, proibidas de cantar, dançar e de manifestar a sua vontade e ideais de vida. São tratadas com mera "coisa" propriedade do marido.
Não só neste mês, os nossos pensamentos e opções por uma sociedade livre devem servir de suporte à luta daquelas corajosas e determinadas mulheres que apenas lutam pela sua dignidade humana. Sabemos de prisões arbitrárias, mortes e desfiguramento de rostos daquelas que contra a proibição decretada pelo poder se manifestam nas ruas pela liberdade, igualdade e democracia acompanhadas de homens que partilham os mesmos ideais. Comove-me a força e coragem destes seres humanos, por isso o meu pensamento e a minha vontade acompanham-nos na crença num amanhã libertador.
Mesmo em Portugal, sem que nunca tenhamos sido sujeitas a tão humilhante condição, o caminho percorrido não foi fácil. Ainda não o é. No Estado Novo, atribuía-se à mulher a função de mãe, esposa e dona de casa. O marido detinha o poder paternal, o poder sobre a família, sobre a mulher e até sobre o emprego desta. A mulher era sempre subvalorizada e oprimida. A Comissão Europeia para a Igualdade de Género estabeleceu como estratégia para 2020-2025, o objectivo de alcançar a igualdade de direitos e deveres, sublinhando que "apesar dos progressos... as mulheres continuam a ser vítimas de violência física e/ou sexual, a ganhar menos... que os homens e representam uma baixa percentagem dos cargos de presidente executivo de grandes empresas".
São estes os obstáculos que a mulher portuguesa enfrenta, prosseguindo os mesmos objectivos para que todos, "homens, mulheres, raparigas e rapazes tenham as mesmas oportunidades de se realizarem e de participar na construção da sociedade europeia e dirigi-la em igualdade de circunstâncias". Só então poderemos vivenciar um Mundo mais igual, mais democrático, mais feliz.
*Ex-diretora do DCIAP
(A autora escreve segundo a antiga ortografia)