O desígnio da democratização do Ensino fez nascer nas últimas décadas universidades e institutos politécnicos um pouco por todo o país. O poder político, sempre segundo os padrões do chamado centrão, alinhou no muito bem-vindo desiderato da formação de jovens mas não cuidou de apertar o cerco a critérios de qualidade - ou até de divulgação junto dos cidadãos de linhas orientadoras estratégicas de médio e longo prazos.
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A política seguida produziu resultados díspares.
A juventude portuguesa está hoje munida de conhecimento como nunca, graças a esforço próprio mas também de sacrifícios de pais e encarregados de educação - embora, em simultâneo, muitos dos "canudos" não abram qualquer horizonte profissional. Afinal, o bom resultado estatístico não tem idêntica correspondência prática.
Em boa medida, o erro base esconde a anuência do poder político à facilidade - seja de autorização de abertura de universidades e politécnicos como cogumelos, seja pela certificação de cursos de definição pomposa mas cuja utilidade dificilmente se compreende a não ser pelo menos desejável dos objetivos: o negócio, obviamente mais acentuado sempre e quando o país também ficou polvilhado de Ensino Superior privado em excesso.
A reflexão, entretanto, faz-se de modo episódico.
Por exemplo: sobre os resultados do acesso de candidatos ao Ensino Superior conhecidos no último fim de semana, já se teceram múltiplas considerações. O menor número de candidatos aceites dos últimos seis anos - 37 415 entradas, existindo 14 176 vagas para a segunda fase - esteve no cone de fogo da maioria das análises, como se se desmontasse um segredo de polichinelo. O declínio da população estudantil, em consequência de uma crise económica acoplada à da natalidade, para muitos é um problema para o qual as universidades terão uma resposta pela via da chegada de estudantes estrangeiros. Simplória solução, já que poucos parecem interessados em debater a existência (ou não) de um excesso de estabelecimentos de Ensino Superior.
A esse magno debate junta-se um outro, tão ou mais preocupante: a profusão de cursos (65 não tiveram um único candidato!) e a inexistência de uma linha estratégica do Estado capaz de estabelecer e difundir projeções de médio e longo prazos sobre quais as áreas socioprofissionais capazes de disporem de viabilidade - e sem retirar a liberdade de opção a cada um. Uma pecha imperdoável - um paradoxo de um Estado ineficaz, controlador da vida dos cidadãos e pouco dado a uma função reguladora.
Sabemos todos: paizinhos e filhinhos tendem a ser atraídos por cursos modernaços, muitas vezes sugestionados por filmes e séries de televisão sem qualquer adesão à realidade. Escolhem por irresponsabilidade mas também por ausência de alertas e indicadores oriundos de um Estado responsável. Falta planeamento estratégico e orientação política capaz de colocar um travão na profusão de "doutores" inúteis.