Irra! Nunca mais é 26 de maio......
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Qual é a pressa?
Simples: até à contagem dos votos das eleições para o Parlamento Europeu, o país não sai de um lamentável jogo de sombras protagonizado pelos esquadrões dos partidos políticos e através do qual se ludibriam os eleitores. A campanha já vai intensa, muitas vezes reles, e de projetos para a Europa zero! Miscigenado pelo passa-culpas do passado e do presente, o discurso centra-se no derrotismo puro e simples sobre os resultados do programa de ajustamento prestes a terminar (a primeira fase) ou em infundadas teorias virtuosas dos amanhãs que cantam....
Está bom de ver: vive-se um ambiente irrespirável e poucos dispõem da clareza de raciocínio bastante para não se deixarem iludir quer sobre as promessas de uma retoma de nível de vida perdido quer quanto à não aplicação de novas doses de austeridade e perda concomitante de patamares de desenvolvimento.
Há demasiados casos paradigmáticos. Pululam o eufemismo e a demagogia - do projeto de "libertação" de trabalhadores da Função Pública, designação pomposa de Passos Coelho para os despedimentos, ao ar abespinhado de Paulo Portas sobre a exigência troikiana de descida de salários e o fim dos sem-abrigo e da reposição dos cortes de salários e pensões enfatizado por António José Seguro.
É verdade: o país não se livra de mais de um ano de circo eleitoral - às europeias seguir-se-ão as legislativas e as presidenciais - mas nos intervalos será desejável cair-se na real.
O memorando de entendimento assinado pelos partidos do arco da governação é todo ele um "case study" de novas e mais sofisticadas gincanas dialéticas. O trio nacional assinou e, agora, cada um à sua maneira, tenta alijar responsabilidades. Sempre e quando surge um novo relatório, da UE ou do FMI, eis-nos na baralhação. E a tentar o drible....
Foi assim com a extinção de câmaras municipais - era impossível ter a coragem de acabar com mordomias e capatazes para uma parte de 315 concelhos e fez-se um "lifting" inócuo, exterminando os poderes pequenotes, o das freguesias. Com os tribunais, o parto está a ser igualmente difícil e agora chegou a altura de todos berrarem sobre o encerramento de 50% das repartições de Finanças. Aqui-d'el-rei, gritam uns; não é bem assim, juram outros....Cheira a eleições, claro.
Entre o voto nas urnas e o alimentar de corporações e sanguessugas dos dinheiros públicos há todo um discurso gingão.
A realidade, em parte substancial, fica para depois da ida às urnas.
O país carece de verdade. Pode até preferir que lhe façam o mal todo de uma só vez, mas não há coragem para tal. Nem estatuto exemplar de quem quer que seja.
No caso das repartições de Finanças, um dia destes haverá um estudioso extremista a considerar a desnecessidade de as ter abertas numa parte do interior em nome de uma planificação da vida dos portugueses. E é simples: os mais abastados acabarão por se transferir para os grandes centros urbanos e os outros, coitados, de tão pobres ficam dispensados de prestar contas ao Fisco. É um argumento fílmico, igualzinho às historietas que aos portugueses se vão contando...