Os esquadrões da poluição no limiar de uma guerra
Numa altura em que a China endurece posições contra Taiwan, reacende-se o debate sobre as consequências de uma eventual invasão da ilha. Na antecipação daquilo que poderá acontecer, há uma variável que não é habitual entrar em linha de conta: o impacto de uma ofensiva militar no clima. Disso pouco se fala. Estranhamente.
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Parece um tema tabu. Quando há uma guerra, contam-se vítimas, antecipam-se impactos económicos e desenham-se cenários políticos, mas raramente se contabiliza o custo climático que um conflito armado sempre tem. Aliás, os estudos sobre os impactos de uma guerra costumam ignorar essa questão, o que não deixa de ser estranho numa altura em que as alterações climáticas entraram em força numa agenda política com grande visibilidade pública e quando se sabe que os conflitos são uma das atividades mais nefastas para o equilíbrio do planeta.
Não será certamente por acaso que os exércitos foram excluídos do acordo do clima assinado em Paris, sendo raros os casos daqueles que apresentam relatórios de sustentabilidade ambiental daquilo que fazem. Há umas semanas, o jornal "Die Zeit" lembrava que o exército alemão será uma das exceções a nível mundial. Seria possível ter militares e exércitos ecorresponsáveis? A pergunta pode até parecer ridícula, mas ganha grande pertinência quando avaliamos o impacto dos mísseis que explodem em territórios de guerra.
Em tempo de tensões mundiais, ninguém ousará pedir aos países envolvidos em conflitos armados que tenham em conta as consequências das suas ofensivas sobre o ambiente. Todavia, talvez se pudesse avançar mais a partir da indústria de armamento e das tecnologias de combate. A marinha americana já anunciou que vai procurar reduzir substancialmente as emissões de carbono até 2030. Intenções, por enquanto.
Paradoxalmente, em momentos de pressão política como este que agora se vive entre a China e Taiwan, a prioridade é colocar em cena o poder militar, ostentando a força e a ameaça de mísseis de grande alcance. Até domingo, a China já disse que vai mostrar do que é capaz. Taiwan já garantiu que não teme essas ameaças, estando preparada para responder aos ataques que a nação continental ousar perpetrar.
Ontem, os média internacionais deram amplo destaque a este assunto, avançando que o risco de uma guerra mundial era maior do que nunca. E, desta vez, podendo ter um envolvimento direto dos EUA. Os temas da crise energética e da falta de água continuam também na ordem do dia. Tudo está interligado, ameaçando perigosamente a nossa casa comum.
*Prof. associada com Agregação da UMinho