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Assim mesmo, um título no plural. É que há mais de uma forma de percebermos a degradação a que "chegou a Nação", 36 anos depois de Abril! De um lado, tivemos o discurso patético de Sócrates que, em 45 minutos e 10 páginas de papel, nem dois minutos ou mais de parágrafo e meio destinou às dificuldades do país, ao drama do desemprego, às dificuldades das pequenas empresas. Ninguém consegue perceber como em tanto papel e tempo não houve a lucidez de reservar sequer um pequeno naco de solidariedade com as enormes privações por que tantos milhares estão a passar neste momento em Portugal.
A distância entre o rosário laudatório de Sócrates e a dura realidade do país é tanta que um evidente desconforto perpassou até pela bancada do PS. E se isto sucedeu no Parlamento, imagine-se o que pensarão os trabalhadores, os desempregados, os pequenos empresários que ouviram a história da carochinha que Sócrates lhes tentou vender no debate do estado da Nação? Será que Sócrates ainda não percebeu que o discurso de vendedor de banha da cobra já só convence os indefectíveis?
Noutro plano, e dando também boa medida sobre o estado a que chegou a Nação, ficou a saber-se que a maioria PSD/CDS não quer o nome de José Saramago nas ruas do Porto, rejeitando uma proposta do vereador Rui Sá.
A sanha persecutória que eu julgaria não ser típica de Rui Rio aparece nítida, à luz do dia. Um Nobel, o único da literatura portuguesa, um dos dois Nobel portugueses, um escritor que, a par de Pessoa e Camões, é o mais traduzido em todo o Mundo, Saramago não "cabe" na toponímia do Porto. Razão? Ter sido comunista, toda a vida.
Inacreditável, ofensivo para todos os que se revêem na enorme tolerância portuense. Revelador da pequenez e do ódio de quem rejeitou a proposta.
