<p>A opinião de uma boa maioria dos portugueses sobre estado da arte da Justiça lusa é a que se sabe: má. Quer dizer: poucos acreditam que os seus direitos, liberdades e garantias estão devidamente acautelados quando recorrem ao "sistema" judicial. Se utilizarmos a velha imagem segundo a qual a liberdade de um indivíduo permite-lhe esticar o braço até ao nariz do seu semelhante, mas sem lhe tocar, digamos que há muita gente que teme sair do palco da Justiça com o nariz em péssimo estado.</p>
Corpo do artigo
O que concorre para isto? Uma chusma de motivos. Concorre seguramente o desfecho inesperado, perante as expectativas iniciais, daquilo que podemos apelidar de "macrocasos" da Justiça: os mais mediáticos, aqueles que envolvem figuras públicas de monta e negócios cheios de zeros à direita. Mas concorrem também os "microcasos": os menos mediáticos, aqueles em que o cidadão anónimo sente na pele os efeitos dos atrasos e, tantas vezes, da injustiça da Justiça.
Esta semana, por exemplo, ficámos a saber que a investigação à destruição de um campo de milho transgénico levada a cabo, em Silves, por cerca de uma centena de ecoterroristas (perdão, ecologistas) concluiu, dois anos depois do acontecimento, que apenas três jovens anarco-chic (uma coisa muito moderna) deverão ir a julgamento. Aos restantes nada acontecerá. Porquê? Porque o Ministério Público não os conseguiu identificar. Notem bem: as imagens daquele execrável acto passaram nas televisões; há fotografias publicadas nos jornais; há mails enviados pelos organizadores do notável evento; a GNR esteve no local… E, ainda assim, não foi possível identificar a rapaziada da associação ambientalista "Verde Eufémia" que, munida de paus, destruiu o milho.
O caso é pequeno para merecer incómodo? Não é verdade. As cabecinhas de quem integra estes movimentos vivem ocupadas com a necessidade de espalhar o Bem (o seu Bem, claro!) e extirpar o Mal do Mundo. Se para isso for necessário destruir o que, com esforço e dignidade, um pequeno agricultor foi criando ao longo da sua vida, isso será seguramente levado à conta dos danos colaterais desse exercício maior que passa por mostrar a luz aos incautos (os que não partilham da cartilha dos meninos).
Sucede que o agricultor tem nome: chama-se José Menezes. Sucede que José Menezes foi basicamente sequestrado por meia-dúzia de cobardes enquanto os outros destruíam o que ele havia construído… José Menezes assistiu a tudo com as lágrimas a escorrem-lhe pelo rosto. Tem agora a paga: dos cem homens e mulheres que o atacaram e que lhe deram cabo do ganha-pão, só três serão julgados. Provavelmente, levarão um puxão de orelhas do juiz e seguirão descansados para a sede da associação, onde, obviamente, rirão abundantemente do caso. E da Justiça.