Focado só e só em conceitos materialistas, o país está a exercitar, aos poucos, um haraquíri de médio prazo.Sim, os modelos económico-financeiros são determinantes, mas a construção de um relacionamento como futuro está condenado ao fracasso se a dosagem dos projetos não evitar a desestruturação da sociedade à qual se dirigem. Pior só mesmo o coquetel explosivo de fomentar clivagens geracionais segundo um esquema aparentado ao dos canibais.
Corpo do artigo
Ainda por cima estimulado por uma orientação e dialética política agressiva, o Portugal de 2014 revela, de facto, sintomas de concorrência e convivialidade pouquíssimo recomendáveis.
O fracasso adivinha-se ao virar da esquina.
O país já não parece ser só um sítio pouco recomendável para as novas gerações, dotadas de conhecimento e, apesar de tudo, da capacidade de mobilidade para tentar fazer vida num qualquer outro ponto do planeta. Apegado a meros horizontes financeiros de curto prazo, junta-se a esse falhanço a incapacidade para respeitar uma população cada vez mais envelhecida, dando tratos de polé a um conjunto de compromissos previamente assinados por um suposto Estado de bem.
Tem tudo para resultar mal, insiste-se, esta incapacidade para fazer casar interesses só aparentemente nos antípodas - em muitos casos, alimentada para a sobrevivência de estratégias de poder baseadas num primário conceito: dividir para reinar. E o mais grave é estar instalado um vírus maligno que trespassa um núcleo há meia dúzia de anos considerado inviolável, o das famílias.
Agora conhecidos, os resultados subjacentes a um estudo sobre "Envelhecimento e violência" na sociedade portuguesa suportam o diagnóstico indesmentível: há um problema de saúde pública em Portugal.
A existência de mais de 300 mil idosos vítimas de vários tipos de violência - física, psicológica, de negligência, sexual ou financeira - devia obrigar o mais comum dos cidadãos a corar de vergonha. Tais práticas confirmam uma sociedade doente em vários graus. E um deles é de todo em todo vexatório para os padrões de relacionamento tradicionais: 160 mil membros da chamada geração grisalha são alvo das tropelias e vigarices de familiares, de filhos a netos, de cunhados a primos. É o tal materialismo no expoente máximo.
Nenhuns euros justificam tamanha afronta.
Urge arrepiar caminho.
Uma sociedade destas não é apenas pouco higiénica e irrespirável. É reles.