Quem é que, sendo pai, não gostaria de acompanhar o filho no primeiro dia de aulas sem estar preocupado em encontrar desculpas para não chegar tarde ao trabalho, sem saber a que expediente recorrer para não ter falta e assim poder vivenciar plenamente desse momento marcante?
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Quem não gostaria que, além do pai, também a mãe pudesse estar presente? As respostas são óbvias. Todos gostávamos. Porque a forma como tantos de nós se entrega às exigências da vida profissional não se coaduna com um normal e saudável acompanhamento da educação dos filhos. De resto, esta será, certamente, uma das questões mais complexas e desafiantes nos debates futuros sobre o mercado de trabalho. Fatores não mensuráveis na folha salarial serão argumentos a considerar na tradicionalmente tensa relação entre empregado e patrão. O valor dos vínculos, da família, dos laços afetivos. E de como estas conquistas pessoais devem ser vertidas em benefício (ou prejuízo) de quem trabalha num país onde a natalidade está em depressão.
O Governo anunciou que iria conceder um dia de folga aos funcionários públicos para acompanharem os filhos (até que cumpram 12 anos) no primeiro dia de aulas. A falta é justificada e, no limite, estando pai e mãe na mesma condição, ficam ambos dispensados. O Estado faz isto porque pode. É patrão. Mas também porque estamos em ano eleitoral. Que não haja equívocos quanto a isso.
Ainda assim, não sou capaz de atacar a justeza da medida, e muito menos me apetece desembainhar a espada vingativa dos que adoram desferir golpes nos funcionários públicos. Só que cingir esta decisão ao universo dos trabalhadores do Estado é de uma tremenda injustiça. E, lamentavelmente, não ouvimos nenhum ministro a prometer empenhar-se em alargar, em sede de Concertação Social, a benesse ao privado, onde a liberdade de movimentos é menor e o universo laboral mais vasto. Aliás, os únicos a clamar pela igualdade de oportunidades entre setores foram os sindicatos da Função Pública. Mas, lá está: só faltam quatro meses para as eleições. E à medida que nos abeiramos de outubro, torna-se mais cristalina a imagem de que uns são filhos e outros são órfãos.
*DIRETOR-ADJUNTO