Podem os animais sofrer? Tudo isto tem a ver com o quase longínquo discurso de Joaquin Phoenix na cerimónia dos Oscars, quando subiu ao palco e recebeu o prémio de Melhor Ator pelo seu desempenho no filme Joker.
Visivelmente emocionado - não sei se pelo galardão se pelas palavras que proferiu -, o ator centrou o seu discurso pelas causas que lhe são queridas, como o fim da violência animal ou preservação dos recursos naturais. Dois temas que estão intimamente ligados e que, recentemente, encarnaram no caso do cavaleiro tauromáquico João Moura. Os 18 galgos abandonados, encurralados, desnutridos na herdade do toureiro são um exemplo daquilo que Phoenix falava. João Moura não adquiriu aqueles animais porque tinha simplesmente afeto por eles. Estavam ali para as corridas e para as apostas. E quando não deram mais, foram escorraçados.
Phoenix alertou para a crueldade existente na indústria animal, seja para nos alimentar ou simplesmente para nos divertir. "Temos medo da mudança pessoal, pois temos medo do sacrifício, mas só assim fazemos a diferença", disse o ator. Ao que parece, o Mundo não está preparado para fazer a diferença, apesar de todos os meios de comunicação, incluindo as redes sociais, que nos presenteiam todos os dias com maus-tratos infligidos aos animais, não só em eventos baseados nas tradições e rituais - touradas, corridas de galgos ou corridas de cavalos - como também na produção intensiva de carne, onde os animais sofrem até à extenuação para serem convertidos em produtos de consumo.
Um dos variados exemplos são as quintas onde se acolhem milhares de gansos e patos usando uma alimentação forçada através de um cano inserido na garganta, fazendo com que o fígado do animal inche e aumente em até 50% do nível de gordura.
Tudo isto para o delicioso "foie gras". Phoenix colocou uma questão incómoda. Para além do sofrimento animal, no qual a ética tem de ser repensada numa economia que já não é do desejo das pessoas, existem também os efeitos colaterais no meio ambiente. Segundo o Fórum Económico Mundial, são sacrificados todos os dias 1,5 mil milhões de porcos e cerca de 50 mil milhões de frangos para alimentar toda uma cadeia empresarial. Entretanto, nos últimos 50 anos, o número de pessoas no planeta duplicou e a quantidade de carne que consumimos multiplicou-se por três. E com a melhoria das condições de vida em muitas regiões do globo - como na China -, o problema tende a agravar-se. Felizmente, os millennials - porque é um tema intergeracional - estão mais recetivos a todas estas questões.
*Editor-executivo
