A seca é um pouco como o cheiro a castanhas no outono. Mas mais grave, porque os aromas que nos remetem para a aproximação ao Natal não fazem mal a ninguém, ao contrário da falta de água, que afeta as culturas, as populações e contribui para o flagelo dos incêndios, que já nos escaldaram a todos de forma muito dolorosa.
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Apesar de o problema ser conhecido, as medidas adotadas por sucessivos governos raramente são estruturantes, realidade com a qual estamos, uma vez mais, a ser confrontados.
Há dois anos, uma boa parte de Portugal debateu-se com um fenómeno de seca extrema. Soaram os alarmes e multiplicaram-se medidas para combater o problema. Na altura, o Governo de António Costa lançou o Programa de Intervenções a Curto Prazo nas Albufeiras. A ideia consistia em efetuar operações de remoção de sedimentos e de alteamento em oito barragens, aumentando a capacidade de armazenamento de água. Querem saber o que aconteceu a este plano, então classificado como importante? Não saiu do papel, porque choveu muito em março de 2018.
Portugal está, entretanto, a ser confrontado com nova ameaça da seca meteorológica. E a Comissão Interministerial de Acompanhamento da Seca lá teve de intervir, comunicando, ontem, a pré-contratação de cisternas para fornecer água às populações que, eventualmente, venham a ser afetadas. As decisões estruturantes, essas, continuam na gaveta. Com governantes que pensam e decidem assim (ou nada decidem mesmo), o futuro estará sempre comprometido, porque a subida da temperatura média é uma evidência científica. Mas não vamos além disto, se calhar, porque seria pouco popular desde já acautelar restrições ao enchimento das piscinas, por exemplo, sobretudo em ano eleitoral. Isto é, no entanto, o que temos. Os políticos já não conseguem surpreender. Também eles são uma seca.
*Editor-executivo