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Na última semana, a questão grega continuou a ser determinante nas primeiras páginas dos jornais, aqui e ali salpicados do sangue dos que morreram na Tunísia ou no Kuwait às mãos de assassinos.
É evidente que aquilo de que se trata é de mostrar ao Governo grego quem manda. As observações de políticos (ir)responsáveis europeus têm sido lamentáveis, pessoais, quase indecorosas. O ministro das Finanças alemão tem dado o mote, com declarações abrutalhadas mais ou menos três vezes ao dia, salivando perante a hipótese de conseguir uma de duas coisas: esmagar Tsipras e Varoufakis ou, ainda melhor, fazer desandar a Grécia. Merkel, é espantoso, tem sido a moderada nisto tudo.
Não se consegue é alcançar aquilo que impede o acordo e o termo desta farsa político-diplomática. Como o suplício de tântalo: dizem os gregos que sim a isto, e logo vem o outro lado dizer que afinal... falta aquilo. O Governo grego, era de esperar, cedeu mais. E a outra parte surge, aos olhos do grande público, como estando quase divertida a testar até que ponto consegue fazer rastejar aqueles que têm conseguido recusar ser servos da gleba.
O Governo português, dizem alguns, teria todo o interesse em que os gregos fossem desta para melhor, porque assim arrumaria de vez com o PS. É a teoria do medo, dos "pobretes mas alegretes": vamos mas é estar quietinhos, portamo-nos mal e ainda acabamos como os gregos. Mas, ficando estes no euro, virá logo a teoria do vale a pena. Olhem, viram? Aguentaram, não cederam ao discurso único, não se vergaram ao beija-mão, conseguiram. Em suma, perdoem a brejeirice, tiveram-nos no sítio.
Depressa saberemos várias coisas. Primeiro, se a Grécia é liquidada, ou não, por razões essencialmente ideológicas (sim, é disso que se trata). Segundo, se estas duas teorias têm impacto no nosso imaginário coletivo. Mais interessante, no entanto, é que as construções nunca são categóricas. Nem Tsipras é o Super-homem ou Lúcifer nem o primeiro-ministro português é o vice-versa. Do que falamos, é claro, é (como antes se dizia na lotaria) de terminações. Mas conviria que Passos Coelho tivesse cuidado. Quando diz que os credores até foram mais flexíveis com a Grécia, arrisca-se a que lhe respondam: porquê, o Governo grego negociou melhor do que V. Ex.ª?!
O Governo grego, era de esperar, cedeu mais. E a outra parte surge, aos olhos do grande público, como estando quase divertida a testar até que ponto consegue fazer rastejar aqueles que têm conseguido recusar ser servos da gleba