Os sindicatos de enfermeiros não devem assustar a população com anúncios de greve. Este foi o ponto que António Costa não enunciou no sábado quando apelou ao dever cívico de todos e listou as cinco regras simples para ajudarmos no combate à covid, a saber; usar máscara nos locais fechados e na via pública, lavar ou desinfetar regularmente as mãos, cumprir a etiqueta respiratória, manter o distanciamento e utilizar a app StayAway Covid.
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Percebe-se a dificuldade ideológica do primeiro-ministro em enquadrar aquele conselho. Como se entende que o líder do PCP, Jerónimo de Sousa, defina como prioritário o reforço urgente dos profissionais em falta no Serviço Nacional de Saúde e que, ao mesmo tempo, ignore a greve marcada pelo Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal entre os dias 9 e 13 de novembro.
As reivindicações dos enfermeiros, justas, não são novidade. A grande maioria da população é até muito solidária com a luta desta classe profissional. Mas, anunciar uma paralisação numa altura em que os números da pandemia estão em níveis máximos, é um verdadeiro tiro na própria trincheira.
No final de uma audiência com o presidente da República, Jorge Correia, do Sindepor, considerou que a paralisação de cinco dias "é mais do que uma greve. É um grito de alerta". Por isso, irá manter-se apesar da pandemia.
São claras, também, as palavras do diretor do Hospital de Santo António. "Todos os dias entram doentes, todos os dias são piores do que os anteriores e a nossa angústia é não sabermos onde é que isto vai parar".
Esperemos que o desespero destes tempos não aumente. Que não seja alimentado por oportunismos. Sendo certo que os heróis não viram as costas quando os aplausos cessam. Os heróis não são os primeiros a abandonar o navio. E eles, os enfermeiros, são de facto heróis, mesmo que os sindicatos que os representam estejam eclipsados pelo próprio umbigo.
*Diretor-adjunto