<p>O ministro do Trabalho refutou, ontem, as críticas de proteccionismo e xenofobia surgidas logo após o anúncio da redução das quotas para imigrantes extra-comunitários. Vieira da Silva disse tratar-se de uma decisão "adequada" à conjuntura económica. "Portugal tem-se distinguido nos últimos anos por ter desenvolvido legislação no sentido de saber integrar os imigrantes que vivem e trabalham em Portugal, como nós gostamos que os nossos emigrantes sejam integrados nas sociedades onde vivem, e é isso que continuaremos a fazer, sem nenhuma segregação, sem nenhuma xenofobia", acrescentou.</p>
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De facto, o corte percebe-se: em plena crise económica, as ofertas de trabalho reduzem-se. Logo, a entrada de imigrantes que procuram um novo rumo para as suas vidas pode, antes de tudo o mais, ser prejudicial para os próprios, na exacta medida em que a falta de emprego deixa-os numa situação altamente precária. É com base no número de pedidos de trabalhadores requisitados pelas empresas ao Instituto de Emprego e Formação Profissional que o Governo estima as necessidades de mão-de-obra estrangeira. E, como explicou Vieira da Silva, esse número tem vindo a decrescer.
Isto, que parece simples, dá origem a problemas complexos, quando a politiquice se mete pelo meio. Mesmo antes de o Governo ter tornado pública a decisão já o CDS-PP a havia defendido. Claro que, agora, Portas foi lesto a reclamar os ganhos. Num jantar comício, o líder dos "populares" exultou, ao lembrar aos comensais que tinha sido acusado de xenofobia, na altura em que, genialmente como sempre, antecipou a necessidade de tal medida.
Este tipo de pingue-pongue é perigosíssimo. Não apenas porque serve de combustível para os discursos mais reaccionários, mas também porque causa nos visados a sensação de que alguém os quer escorraçar para proteger os interesses dos indígenas. Daqui aos tumultos, mais ou menos sérios, nos chamados "bairros problemáticos" vai um pequeno passo. Normalmente, a coisa acaba mal, como se viu em França. Mal para os que, tantas vezes sem razão, dão vazão a ódios acumulados. E mal para as democracias, obrigadas a acolher no seu seio partidos extremistas que capitalizam sem pudor o descontentamento dos mais frágeis.
É por isso que se torna necessário olhar com prudência para o que está a passar-se no Bairro da Bela Vista, em Setúbal. Com prudência e com bom senso. No meio da tempestade, o pior que pode acontecer é deixar sem resposta os que preferem erguer as vozes e as bandeiras do proteccionismo mais torpe. Uma coisa é tomar medidas de excepção em tempos de excepção - foi isso que o ministro fez. Outra é usar esse tipo de medidas para ganhar uns votinhos junto dos mais débeis.