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Ficou para a história uma frase atribuída a Lincoln, o 16.º presidente norte-americano, segundo o qual a melhor forma de conhecer e pôr à prova o caráter de um homem é dar-lhe poder. Sábio, o velho Abraham, que foi também o primeiro presidente do Partido Republicano, até parece que antevia Donald, seu sucessor 150 anos depois.
Trump não presta: é um impostor, ignorante e narciso; é a erva daninha na horta, o vizinho indesejável no nosso condomínio. E o rasgar do Acordo de Paris é apenas o último episódio maligno de um mandato que vai no quinto mês, mas que ameaça isolar os Estados Unidos na cena internacional.
Há ano e meio, a Conferência Mundial do Clima, em Paris, era a aberta de esperança sob a nuvem negra, ameaçadora, que resulta das profundas alterações climáticas geradas pelo crescendo de emissões de gases com efeito de estufa.
O compromisso dos 195 países signatários do acordo era travar o rápido aquecimento global do planeta que partilhamos, responsável por fenómenos extremos que vão desde os ciclones, a inundações, a secas mais prolongadas e outros desastres atmosféricos que ameaçam a saúde, a segurança alimentar e, em geral, toda a Humanidade. E o mais importante sinal de bonança era, então, dado pela adesão da China e dos Estados Unidos, os dois maiores poluentes.
Agora, de uma assentada, e contra todas as evidências científicas, contra os compromissos internacionais e contra os interesses da sua própria economia a longo prazo, Donald Trump tomou uma decisão que anula a herança de Obama em matéria de ambiente. Herança que impunha restrições ao uso do carvão e combustíveis fósseis, e incluía medidas destinadas a promover energias limpas e reduzir as poluentes, com o objetivo de garantir que em 2030 as emissões fossem 30% inferiores às de 2005.
Valha-nos que a China e a Europa se mantêm firmes na defesa do acordo. Valha-nos, também, o despertar da nação americana que não quer suicidar-se. E até o mundo económico dos poderosos acorda para essa nova perceção de que, a prazo, só haverá economia... se houver Mundo. Há meses, líderes de 360 grandes empresas, nenhuma delas das áreas do carvão ou do petróleo, já tinham apelado a Trump para que mantivesse os compromissos de Paris. Debalde. O pior de Trump não são os caóticos 180 dias que leva de mandato, mas a inquietação sobre os incertos 1500 que ainda lhe sobram na Casa Branca. Isto, porém, se a Justiça americana e os seus próprios correligionários republicanos não lhe fizerem antes a folha. Mas essa é outra história.
*Diretor