Uma taxa de desemprego galopante tem tudo para se tornar explosiva - e não apenas do ponto de vista social. Sem modelação nas políticas restritivas em curso não é preciso ser bruxo para adivinhar um agravamento - as previsões retificadas do Governo de uma subida para os 16% no próximo ano estão em linha com a previsão de continuidade da recessão. Todos os economistas apontam a necessidade de um crescimento do PIB na ordem dos 2,5% para se atingir um patamar credível de geração de emprego...
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Perante um diagnóstico assim, para mais pendente da conjuntura internacional, soa a música celestial a ideia de projeção de políticas de crescimento. Com a Alemanha à cabeça, talvez a concretização fique mais próxima se e quando a União Europeia perceber a impossibilidade de criar zonas imunes à crise - o facto de a Moody's ter baixado a notação de sete bancos alemães e três austríacos é aviso a levar a sério.
Até lá, até haver uma concertação estratégica, a começar na Zona Euro, as soluções casuísticas funcionam como amortecedores do aumento do batalhão de desempregados.
Vale a pena, pois, começar por algum lado.
O Governo validou ontem em Conselho de Ministros o chamado "Impulso Jovem". Sensível à impressionante taxa de 36% de jovens desempregados, a maioria deles muito habilitados, orientou um fundo de 344 milhões de euros para minorar os problemas - e fez bem. O plano estratégico visa um universo de 90 mil jovens, através de estágios profissionais, formação profissional, empreendedorismo e contratação, zona para a qual se atrairão empresas pela via da redução da Taxa Social Única até 90% e num máximo de 175 euros durante 18 meses, neste caso sem criar um rombo no financiamento da Segurança Social, já que o impacto da medida, da ordem dos 42,5 milhões de euros, será compensado por verbas saídas do Fundo Social Europeu.
A par do habitual criticismo de alguns aparelhos partidários e sindicais, um programa assim gera, naturalmente, focos de satisfação, embora minimalista. Serve para dar satisfação a reivindicações da troika a que o país está subjugado mas, em simultâneo, acabará por minorar alguns problemas. Se de modo duradouro ou apenas de forma conjuntural, logo se vê.
O programa "Impulso Jovem" merece, portanto, nota positiva.
Convém, porém, não perder de vista a necessidade de o Governo propor soluções para o combate ao flagelo do desemprego, embora também possam não ser duradouras.
A taxa de 36% de jovens desempregados é preocupante e merece combate. O problema, no entanto, é mais vasto. Abrange mais de um milhão de portugueses e é imprudente não equacionar apoios para portugueses acima dos 34 anos de idade, muitos deles vítimas do desemprego de longa duração e considerados novos para a reforma e velhos para trabalhar.
Dar gás aos laivos existentes de lutas geracionais será de todo em todo desajustado.