1 - A subida da taxa de juro de referência decretada esta semana pelo Banco Central Europeu (BCE) incomodou meio mundo e agradou a outro meio. Incomodou os que preferiam manter mais fácil o acesso ao dinheiro, por pensarem que as economias estão num ponto em que não aguentam um novo aperto no garrote.
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Agradou aos que temem uma espiral inflacionista de tamanho gigante, daquelas que arrastam consigo empregos e provocam falências umas atrás das outras.
Para o consumidor português, a primeira teoria é obviamente mais atractiva, na exacta medida em que trava o aumento da prestação da casa e das mensalidades dos restantes empréstimos contraídos nos (longínquos) tempos de vacas gordas. Ninguém gosta de ser obrigado a esticar ainda mais o orçamento familiar.
Sucede que, no meio de uma tempestade como esta, o pior que podemos fazer é pensar, por um momento que seja, na possibilidade de continuarmos a fazer exactamente o que fazíamos antes de a tormenta se abater sobre a economia - isto é, sobre nós. Por muito que nos custe a (quase) todos, nos próximos anos (esperemos que não sejam muitos) a maior parte das famílias portuguesas terá que reduzir a sua qualidade de vida. Não é possível continuar no mesmo patamar em que uma ida ao banco ou a uma financeira chegava para satisfazer um ou mesmo vários desejos. Ou melhor: possível é. Mas a insistência nessa loucura resultará, mais cedo ou mais tarde, num violento choque contra a parede.
Isto, que parece tão simples de entender, é de uma enorme brutalidade para as famílias. É que não se trata apenas de cortar no acessório. Vai ser necessário reduzir no essencial: na alimentação, por exemplo, dado que ela é um dos componentes que mais pesa nos orçamentos familiares.
O insuspeito professor Daniel Bessa costuma dizer que as más notícias chegaram tarde de mais à economia portuguesa. Se tivessem chegado mais cedo, os consumidores teriam percebido há algum tempo como era absolutamente incomportável continuar a viver como se nada estivesse a passar-se lá fora, no resto do mundo. Daniel Bessa tem razão: a ilusão estendeu-se além do razoável. Por isso será mais difícil enfrentá-la.
2 - O que aconteceu na madrugada de ontem no Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol deveria ter apenas uma consequência: a demissão de todos os membros daquele órgão. Para isso seria apenas necessária uma pontinha de vergonha e outra de decoro. O que ali se passou e o que virá a passar-se envergonha o país e volta a mostrar à saciedade o estado a que chegou o futebol nacional. Não é possível bater mais fundo.