A Câmara de Fafe encerrou o ano de 2012 com saldo positivo e sem dívidas a fornecedores. José Ribeiro, o socialista que lidera a Autarquia, conseguiu, ainda, reduzir em cerca de 20% a dívida bancária do município. Com as contas em dia, o município vai manter, este ano, a redução de 2% no IRS dos fafenses e cortar em 25% o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI, a antiga Sisa).
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Batemos palmas ou desconfiamos? Estes extraordinários resultados são consequência de uma extraordinária gestão ou, ao invés, são o reflexo de uma gestão virada apenas e só para o equilíbrio financeiro da Câmara, descurando tudo o resto? Quem passa hoje por Fafe percebe que a cidade não parou para que as contas pudessem bater certinho. Bem pelo contrário. Para quem, como eu, teve a oportunidade de a conhecer há dúzia e meia de anos, a cidade está hoje bastante mais composta e cosmopolita, mais atraente e atrativa. Devemos bater palmas, portanto.
A gestão de José Ribeiro é exemplo único no país? Não. Há muitos e variados exemplos de boa e cuidadosa gestão. Também os há maus e muito maus, é certo. Mas, tudo visto, o caso de Fafe serve na perfeição para mostrar como é injusta esta crescente tentação do Governo (para não lhe chamar outra coisa) de querer transformar as autarquias e os presidente de Câmara numa espécie de bodes expiatórios do desperdício financeiro que nos trouxe até à desgraça.
O exemplo mais humilhante e de puro ataque político à autonomia do poder local é a colocação nas autarquias de um gestor com poder para contrariar o presidente de uma Câmara que recorra ao Fundo de Apoio Municipal, por se encontrar com níveis preocupantes de endividamento. O exemplo mais caricato, porque idiota, é a obrigação de todos os municípios libertarem verbas do IMI dos seus concelhos para o dito Fundo de Apoio. A isto chama-se beneficiar o infrator. Pagam os justos pelos pecadores, o que, como se percebe, é uma regra muito pouco cristã e difícil de engolir para aqueles que, como José Ribeiro, chegam ao fim do mandato com as contas em dia, fruto de uma gestão que seguramente o obrigou a fugir de tentações como as que levaram alguns dos seus colegas diretamente ao abismo financeiro. Se a isto somarmos a constante redução de recursos financeiros imposta às autarquias percebemos ainda melhor que tipo de tratamento dá este Governo às câmaras.
Por que razão o faz? Porque o ministro da tutela, Miguel Relvas, e o primeiro-ministro desconfiam profundamente dos autarcas, por verem neles gastadores inveterados e perigosos distribuidores de benesses.
Aos presidentes de Câmara resta--lhes seguir o exemplo do Visconde de Moreira de Rei: o homem que deu origem à famosa justiça de Fafe nunca levava desaforos para casa.