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Decorridos vários anos desde que se começou a pensar no projeto, o metrobus continua a ser o exemplo do pior que existe na articulação entre instituições públicas e agentes políticos. Os episódios lamentáveis da passada semana em nada beneficiam a reputação da obra e a opinião dos cidadãos sobre os transportes públicos.
Na já grande lista de problemas da obra, surge agora a discussão sobre a melhor forma de fazer inversão de marcha na Boavista, uma interrogação que acabou por surgir na sequência dos primeiros testes na via – há muito pronta, mas ainda sem utilização. Enquanto os diversos agentes se digladiam sobre a melhor solução, aproveitando para o habitual “passa-culpas” a que a realidade nacional já nos habituou, temo que a pergunta mais evidente passe em claro: o problema e a solução não deviam ter sido vistos no momento de elaboração do projeto? Parece que não, parece que “primeiro faz-se, depois vê-se”.
Mas é preciso olhar para esta história com distanciamento e tirar as conclusões que efetivamente importam.
A primeira é que o Estado está habituado a brincar com o dinheiro dos contribuintes, mesmo que ele venha através da “bazuca” do PRR. E isso acontece porque decide mal, planeia ainda pior e nunca pondera sobre as consequências. Portámo-nos como um país rico que finge que os recursos financeiros são ilimitados para responder às inúmeras necessidades que se identificam em várias áreas da nossa vida coletiva. Mas talvez fôssemos “mesmo” ricos se não tivéssemos esta displicência sobre o uso de dinheiros públicos.
A segunda tem a ver com o desgaste já quase irremediável que os constantes desentendimentos entre Metro do Porto e Município do Porto têm causado na vida da cidade. Quando vão estas duas instituições perceber que têm de trabalhar em conjunto para construir mais rápido, melhor, com mais visão e menos impactos? Quem sofre com estas tricas são os portuenses.
A terceira é que já houve tempo suficiente em várias etapas do projeto para se resolverem diferendos e problemas técnicos. Já é tempo de colocar a obra ao serviço das pessoas, que é para isso que estes investimentos servem.
Na atual conjuntura política, importa também perceber o que pensam os candidatos sobre o assunto e o que tencionam fazer na segunda fase. Já é público que alguns querem que a Câmara volte atrás e que se possa sacrificar o investimento. Seria importante ouvir a opinião dos restantes.
Enquanto não olharmos de outra forma para os projetos públicos, nunca teremos capacidade para competir com os melhores.