O Futebol Clube Tirsense, fundado em 1938, manifesta 84 anos de história, no seu percurso contemplou por oito ocasiões a presença na primeira divisão do futebol português.
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Os seus ilustres adeptos são conhecidos como os jesuítas, famosos por consagrarem o mítico Estádio Abel Alves de Figueiredo com célebres enchentes em quase todos os jogos, uma nostalgia positiva que ainda permanece na memória dos vivos.
Pelo palácio jesuíta desfilaram nomes consagrados do nosso futebol, o pequeno Caetano, o grande Paredão, Marcelo o habilidoso goleador de serviço, Moreira de Sá, o acrobata de apoio ao ataque, e Giovanella, que encantava com as nobres assistências, sem esquecer, obviamente, o mais carismático jesuíta, de seu nome Alberto Festas, que mantém um cargo administrativo no clube.
Muitos treinadores passaram pelo FC Tirsense, porém, seria indigno não eleger Eurico Gomes como o grande "Leão Negro" que fez rugir os jesuítas no topo da sua magnificência. Sob o seu comando, o Tirsense conquistou o título da Segunda divisão na época de 1993/94, seguindo-se a esplêndida época de 1994/95, alcançando o admirável oitavo lugar na primeira divisão, um feito inigualável até aos dias de hoje.
Até prova em contrário, arrisco-me a dizer que Eurico Gomes está para o FC Tirsense, assim como Pedroto esteve para o F. C. Porto.
Contudo, o passado já lá vai, restam apenas saudosas lembranças de um sonho que derrocou rapidamente após atingir o auge.
Todavia, o Tirsense não morreu, apesar de ter batido nos confins dos glaciares do distrital. Hoje compete no Campeonato de Portugal ocupando o terceiro lugar da série B, o que ainda lhe permite conquistar os lugares de acesso à fase de subida. Começam a ouvir-se rugidos no palácio. Soltem os leões.
Contextualizando o presente momento, o FC Tirsense foi liderado por Ricardo Silva até ao início de novembro, tendo deixado o cargo por razões pessoais. Cumpriu bem a missão, apresentando um perfil com algumas características intrínsecas da sua personalidade: é barbeiro de profissão, ex-guarda-redes e simpatizante do Vitória de Guimarães. Homem de medida e corte fino, alimentou o sonho de voltar a colocar o Tirsense na 1.ª Liga e deixou um legado que os restantes elementos estão a dar continuidade.
Prometeu modernizar com ambição, aplicar imaginação com criatividade e ainda teve bravura para se comprometer com provocação, quem tem a coragem de quebrar códigos antiquados sujeita-se aos maiores galardões. A arrojada "loucura" moderna tem-se traduzido em prosperidade desportiva, a resultância está à vista.
Por isso, afirmo, que se não fosse a loucura, ficaríamos loucos.
Enquanto isso, no palácio jesuíta ruge ferozmente um silêncio poderoso, que aguarda com sapiência e prudência o rugido da magnificência.
Acendam as luzes, abram os portões, que o palácio jesuíta volte a ter multidões, e para quem não sabe quem é o pai destes negros leões tem cinco jornadas para descobrir de que são feitos os corações. Quando o rugido voltar a ecoar no Abel Alves de Figueiredo, a história repete-se com novas gerações.
Positivo
Sente-se o cheiro da inovação neste grande clube de tradição. Os adeptos são a prata mais valiosa do tesouro, mentalidades modernas conseguem resultados positivos, ultrapassando os antiquados modelos de gestão utilizados no passado. Não permanecer na sombra do medo enaltece a luz do sucesso.
Negativo
É com indiscutível tristeza que vemos clubes como o FC Tirsense afastados do anfiteatro principal. Tal grandeza humana da instituição deve reclamar o apoio incondicional de Santo Tirso. Não sei se tem ou não esse apoio, mas se não tiver, então estamos perante uma violação ética e moral à cidadania da cidade.
*Treinador