O grupo de lesados de Augusto Santos Silva cresce e tenta, de todas as formas, que o presidente da Assembleia da República (AR) se prontifique à justificação e se desculpe por frases de interpretação livre num comentário privado entre figuras de Estado, captado pelas câmaras do canal televisivo da própria AR.
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É entre o voyeurismo e a anedota que a extrema-direita e liberais se procuram vitimizar, após serem protagonistas de truculência troglodita (os primeiros) e de deserção parlamentar em grupo (os segundos) na tentativa de marcar a sua posição-panfleto pela presença de Lula no Parlamento português. Sem capacidade de mobilização para fazer gincana da oposição à visita do presidente do Brasil à AR, há uma parte da Direita portuguesa que tenta ganhar dividendos através do fora de jogo. A inversão do ónus da prova desonera quem acusa. Sendo uma obrigação imputada ao réu, obedece a requisitos bem específicos e ao abrigo do princípio da proporcionalidade.
Mas antes da proporção, há a verdade. A verdadeira debandada da Iniciativa Liberal aconteceu após a votação do direito à autodeterminação da identidade, expressão de género, protecção das características sexuais e da proibição e criminalização das práticas de conversão. A saída de dois conselheiros nacionais e de onze membros que se desfiliaram, acusando-a de virar à esquerda, diz bem sobre o que habitava a IL e sobre a actual não complacência com quadros que devem migrar para o pátio natural da extrema-direita, tal e qual como os ultraconservadores do TEM abandonam o CDS após o fim do direito de tendência no partido. Essa clareza é benéfica.
Mesmo para os incendiários, é fundamental escolher a fonte de ignição dos fogos. Todo o foco deve estar no que foi dito em plenário perante a boçalidade do Chega. Mas a divulgação de escutas ilegais em sala adjacente ao Plenário parece ser eleita pela oposição a Santos Silva como arma de arremesso institucional, como se o epíteto de "fruta fora do prazo" fosse coisa digna. O presidencialismo de Santos Silva é voluntarista e serve-se frio. Não pede desculpas senão a Marcelo Rebelo de Sousa e a António Costa pela presença de uma câmara pouco oculta. É evidente que ralhete não se serviu nos bastidores e tudo o que ferve ao contrário é apenas uma derrama de leite pueril. É na procura da maturidade que alguns liberais fazem caminho e Augusto Santos Silva não é culpado de lhes reconhecer os cismas da juventude.
Músico e jurista