O país anda à procura de muita coisa. Provavelmente à procura de si próprio. Não admira. Um país que não possui ouro (a não ser o que está escondido nas caves do Banco de Portugal), um país que não tem petróleo (ainda que continuem as perfurações ao largo da costa atlântica), um país que não tem indústrias pesadas, um país que continua incapacitado para responder às teias da globalização, terá de sentir-se inseguro e precipitado para suplicar que apareçam, de onde quer que seja, "messias salvador da pátria".
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Esta incessante procura, não obstante mesmo as más experiências da História, não é, portanto, de agora. É natural, contudo, que, em tempos de crise profunda, esta ansiedade se agudize.
Entre as várias coisas de que o país anda em busca (perdoe-se-me esta coisificação) é a de líderes. É no campo da liderança política. É na liderança económica. É na liderança industrial. É na liderança de várias organizações da arquitectura do Estado. E até na liderança das instituições desportivas.
Neste contexto, a eleição de Pedro Passos Coelho para líder do maior partido da Oposição tem contornos que ultrapassam essa própria eleição, não obstante a forma retumbante como "esmagou" toda a Oposição interna. Neste momento, já são muitos aqueles que, dentro do PSD e da Direita, e não só, já estão a esperar e a exigir que Passos Coelho seja, para além de presidente do PSD, o tal "messias". E a obcecação deste messianismo pode começar por atraiçoar o próprio Passos Coelho. Ele é tão- só um político profissional que se preparou para liderar o seu partido. E como tal, na lógica dos naturais mecanismos democráticos, para vir a ser primeiro-ministro. Subiu a pulso contra ventos e marés das vozes tonitruantes do PSD. É líder do partido. E muito provavelmente líder do governo deste país. Mas não se exija que seja o tal "líder messiânico". Aliás, primeiro, vai ter de conseguir, dentro do partido, a unidade que lhe tem faltado para garantir a alternância na liderança. E ainda nem começou a governar o PSD e já se ouvem as personalidades baronetes a tomar posição sobre rumos desejados para o país.
Os "líderes messiânicos" escasseiam, hoje, em todas as actividades. Num mundo com janelas de vidro por todo o lado, repleto de vitais contradições, eles não "se fazem". Nem nós os fazemos. Se surgirem líderes já não será mau. Os "líderes messiânicos" não nascem das pedras.