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A fantástica entrevista de João Nicolau de Almeida à RTP, na passada quarta-feira, motiva-nos a revisitar a análise prospetiva sobre o território do Douro. Necessitando do ar do Porto como essência da minha vida desde o nascimento, não escondo ter no Douro, faz mais de 50 anos, o meu território de adoção, sentindo sempre em cada dia o estímulo para tentar fazer algo de positivo pelo seu futuro.
Contando hoje com pouco mais do que 180 mil habitantes no conjunto dos 19 municípios da CIM Douro, a marca indelével da preponderância da vitivinicultura sobre as demais atividades coloca hoje desafios bem distintos dos vividos nos tempos heroicos da implantação da vinha ou da crise de filoxera.
Convém, no entanto, realçar que o Douro é hoje bem diferente dos tempos marcados por forte pobreza, onde o acesso à saúde, à educação e habitação condigna, entre outros direitos, eram privilégio de uma parte minoritária da população, sendo justo recordar o enorme avanço civilizacional que o Portugal democrático representou. O que não nos deve impedir de perceber o que continua a correr menos bem e desejar, ou sonhar, a sua correção. Porque continuamos a sentir que os territórios do Douro estão longe de constituir uma prioridade nos sucessivos planos de investimentos públicos em infraestruturas, bastando olhar para os exemplos simples da degradação continuada da N222 ou do inaceitável estado da Linha do Douro, com as risíveis justificações para os sucessivos adiamentos da sua modernização.
Numa altura em que a lenta, mas inexorável, queda do volume de venda de vinho do Porto coloca em causa um enorme regulador da redistribuição social de riqueza das últimas décadas, os desafios que se colocam aos vinhos DOC Douro e ao desenvolvimento turístico integrado são mais um enorme obstáculo a vencer, para a manutenção de um equilíbrio social mínimo, que não ponha em causa o futuro das dezenas de milhares de famílias, a base do território agrícola mais bonito do Mundo!