Eu sei que me vou repetir, mas vale a pena, até porque o engano não é pequeno: uma das maiores conquistas da democracia é o poder local, os países mais desenvolvidos são descentralizados e o princípio da subsidiariedade é virtuoso.
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De cada vez que me sinto monótono por repetir isto, lembro-me dos chavões dos "corruptos autarcas", dos "dinheiros mal gastos pelas autarquias" ou das escarnecidas "rotundas". Nem as PPP, nem os swaps, nem os vistos "gold", nem o "Monte Branco", nem o BES, nem a Parque Escolar, nem as autoestradas vazias, nem o novo aeroporto de Lisboa, que era urgente construir quando afinal a Portela ainda está a 50% da sua capacidade, nada disto parece ser de molde a equilibrar o registo mediático em que o Poder Local serve de bombo da festa.
Por isso me repito, não para esquecer os erros dos autarcas, mas para lembrar que há uma alternativa às decisões tomadas a partir da capital e que infelizmente, depois da extinção de direções-gerais e de qualquer instituto nacional fora de Lisboa, o que nos resta são os municípios. Isso mesmo reconhece o próprio Governo, quando procura a descentralização de competências para as autarquias, embora continue a recusar dar o passo lógico seguinte, o de aumentar os poderes de decisão a nível regional. Infelizmente, até as comissões de coordenação parecem estar cada vez mais a ser transformadas em balcões governamentais.
As decisões tomadas a partir da capital dão-nos mapas como os das scut, com pórticos como os de Gulpilhares. Como se sabe, era suposto estas estradas só serem portajadas onde existissem alternativas para os utentes. Ora, naquela freguesia de Gaia, a velhinha Estrada Nacional 109 ficou por baixo da A29, obrigando a um trajeto tortuoso para evitar a cobrança. Ao que noticiou o JN, a verdadeira alternativa vai surgir agora pela mão do presidente Eduardo Vítor Rodrigues, que decidiu, com um arranjo simples, que há muito se impunha, olhar para os interesses dos seus cidadãos, em vez de estar focado no das concessionárias ou do Orçamento do Estado. É este equilíbrio que permite o olhar da proximidade.
Um outro mapa desenhado em Lisboa vai também testar o vigor dos autarcas, desta feita em torno do dossiê da água que cria concessionárias que, no caso das Águas de Lisboa e Vale do Tejo, vão da capital até Foz Côa. Dizem que é solidariedade, mas há quem aposte que há privatização no horizonte. Eu, na dúvida, fico satisfeito que os autarcas sejam os contrapesos do sistema.