O Papa Francisco aceitou conversar sobre o medo com o psicólogo italiano Salvo Noé. O resultado dessa conversa é hoje lançado em livro sob o título "La paura come dono" - O medo como dom.
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Segundo o Vatican News, o Papa revela que experimenta o medo de cometer erros. Contudo, "o medo excessivo não é cristão", porque paralisa e aprisiona. Retira à pessoa a liberdade para "olhar para a frente, para criar algo, para fazer o bem".
Tendo o medo como pano de fundo, o Papa aproveita para sublinhar os temas que têm marcado o seu pontificado. Alguns deles são controversos e muitos dos responsáveis da Igreja têm receio de os abordar com frontalidade.
O Papa fala sem medo do acolhimento dos emigrantes e dos homossexuais: "Deus é Pai e não renega nenhum dos seus filhos". Denuncia o carreirismo e o materialismo dos clérigos: atualmente "a maior perversão na Igreja é a de sacerdotes carreiristas e a mundanidade", afirma. Também aborda os abusos sexuais e a necessidade de uma formação e avaliação mais exigente dos seminaristas.
Porque o medo não é cristão, também a hipocrisia não o é. A hipocrisia "é o medo da verdade" e "é particularmente detestável" na Igreja. "Infelizmente ela existe e há muitos cristãos e ministros hipócritas", diz o Papa.
Ao longo do seu pontificado, e apesar de agora assumir alguns dos seus receios, o Papa tem surpreendido pela coragem em afrontar questões difíceis. Também não cala a denúncia das incoerências dos clérigos e da própria Igreja em relação aos valores do Evangelho, dos quais deveriam ser testemunhas e garantes.
O discurso corajoso do Papa desinstala, encoraja os que têm medo de avançar e promove uma "Igreja em saída". Mas também incomoda os que desejam que tudo continuasse como dantes. Estes fazem os possíveis para travar as suas reformas - e anseiam que ele resigne.
*Padre