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Sinto orgulho pelo momento em que completo 50 anos de associado do Futebol Clube do Porto. Reconhecendo a forte componente emocional e a carga simbólica deste facto, não consigo imaginar a minha vida sem este lado muito pessoal com que sempre vivi desde as mais ténues memórias de infância.
Ser do Porto é um estado de alma, que cada um perceciona de forma muito pessoal, impossível de explicar, que se herda e se transmite na sucessão natural da lei da vida. Desde muito cedo que me habituei a vibrar com as vitórias do meu clube, mas também a sofrer com a tristeza das muitas vezes em que saíamos derrotados, num tempo em que as circunstâncias assim o ditavam com alguma frequência. Mas sempre reforçando em cada ano o meu amor e dedicação pelo clube e pelos seus valores. Existe hoje em mim mais Porto do que há 50, 40, 30, 20 ou 10 anos, seguramente. Tenho vivido momentos com que em jovem sonhava mas sabia serem muito difíceis. Aspirava a ser campeão nacional de futebol, o que acreditava ser uma questão de tempo, mas se já seria impensável o número de vezes em que temos conseguido esse feito nas últimas três décadas, que dizer então dos títulos europeus e mundiais conseguidos? Eu sei bem que ganhar e continuar a ganhar quase sempre é fantástico, é algo a que facilmente nos habituamos e com que convivemos bem. Mas também é importante perceber que é nos momentos menos bons, em que todos nos sentimos mal por ficar em segundo, que temos de nos saber superar, para com maior esforço e união voltar a ganhar. Percebendo também o trabalho que os nossos rivais fazem para que o mesmo lhes aconteça, mas sempre com a certeza de quem sabe que os pode superar, mesmo que para isso nos seja exigido um esforço ainda maior do que aquele que em condições normais seria necessário.
Por isso é neste momento de pausa que temos que nos reorganizar para voltar com mais força e convicção. É e será assim em cada ano, quando se ganha e, em especial, quando se perde. Fico triste quando vejo alguns dos que se também se dizem do Porto a dizer mal do clube, em que mais parecem desejar que tudo corra mal para que a seguir se possam vangloriar da suposta razão antes do tempo. Somos e temos que ser pelo Porto em cada ano, em especial quando queremos recuperar algo que sentimos ser o nosso destino: vencer! Sempre com esperança e união redobrada!
* PROFESSOR CATEDRÁTICO DA UNIVERSIDADE DO PORTO