A teoria segundo a qual já não há heróis e heroínas, tirando os da banda desenhada e os que prendem os nossos filhos nos canais infantis do cabo, é falsa. Completamente falsa. Faço a prova a seguir, partindo da decadente situação económica em que nos encontramos. Antes, para ser feita justiça, é preciso dizer que, para além dos sectores em que encontrei heróis e heroínas nos últimos meses, há muitas outras áreas em que eles existem, mas não se vêem - porque não se mostram ou porque não são mostrados.
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E não, não estou a falar dos nomes consagrados atrás dos quais os órgãos de comunicação social correm, uma e outra vez, à procura de comentários para isto e para aquilo. Falo de gente mais ou menos anónima que está a construir o futuro: o deles e o nosso. Falo de gente a quem não se ouve um lamento, mas sim palavras que rimam com trabalho, como dedicação e internacionalização; falo de gente que não se queixa do Estado (ou do Governo), mas sim da falta de mão-de-obra especializada; falo de gente que recusa discutir se oito, nove, dez, onze ou doze horas de trabalho por dia são um entorse democrático e uma violência laboral inconcebível; falo de gente que arriscou, apenas ciente das suas capacidades, sem nenhuma garantia de que o negócio possa crescer e dar lucro; falo, enfim, de gente com quem é bom conversar, por várias razões, sendo a primeira o facto de sairmos da troca de argumentos com a alma bastante menos enrugada e a segunda o facto de acabarmos o encontro com a certeza de que, para lá da espuma dos dias, há portugueses e portuguesas, heróis e heroínas, que sabem o que querem, que querem lutar pelo que desejam ser e ter e que recusam o pessimismo e a lamúria como modo de vida.
De quem falo? Falo de Sara Pignatelli, designer da Vudu Shoes, marca de calçado de que vamos ouvir falar muito no futuro; falo de César Carapinha e Jorge Castro, responsáveis da Vicoustic, empresa de insonorização de espaços que anda pelo mundo inteiro; falo de Miguel Oliveira, director-geral da Edigma, considerada pelos maiores especialistas em novas tecnologias como uma das 100 mais inovadoras da Europa e uma das 200 mais inovadoras do Mundo; falo de Filipe Roquette, sócio-fundador da Seed Studios, que desenvolveu de raiz o primeiro videojogo nacional aceite pela Sony para a Playstation 3; falo de Daniela Couto, CEO da Cell2B, que desenvolve um método revolucionário que pretende evitar a rejeição de órgãos transplantados.
E podia falar de muitos mais que com estes partilham duas fundamentais características: têm todos entre 26 e 35 anos e têm todos uma indómita vontade de não deixar os sonhos e o trabalho a meio. Quer dizer: querem ser o que Portugal e os portugueses não têm sido, genericamente falando. Um país que tem jovens com esta estaleca só é um país perdido se quiser perder-se. Quer?