Mudanças, mas não muitas. O Parlamento resiste a entender os sinais de mudança e de diversidade saídos das últimas eleições legislativas, fazendo alterações cirúrgicas ao regimento que impedem os deputados únicos de participarem na conferência de líderes, mesmo que apenas como observadores.
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Depois de dois meses de trabalhos, ficam apenas formalizados os tempos e direitos de intervenção desses parlamentares, tendo PS, PSD e PCP bloqueado outros direitos, de que o PAN, então com apenas um deputado, gozou na anterior legislatura.
No grupo de trabalho que discutiu as mudanças a introduzir no regimento, o socialista Pedro Delgado Alves sintetizou o espírito dos três partidos que se opuseram a uma participação mais ampla. "Se os três (pequenos) partidos representam milhares de eleitores, então os outros partidos representam vários milhões". Os grandes, é assim em tudo, caem muitas vezes na armadilha de menosprezar os pequenos.
É provável que um nome condicione particularmente este debate. André Ventura (que em protesto não participou na reunião do grupo) é o fantasma na sala e perante os receios de crescimento da extrema-direita muitos se esforçam em esvaziar-lhe a agenda e os tempos de intervenção. Menosprezar ou tentar silenciar, mesmo a um personagem cujas ideias para o país baixam ao nível mais baixo da conversa de café, pode, contudo, ser um erro a fazer crescer o fenómeno. Com um trabalho ágil na comunicação de mensagens simplistas e com acolhimento numa grande franja da população, André Ventura domina as redes e sabe bem colocar-se no papel de vítima. As novidades dos pequenos são muito diversas e é para essa diversidade que devem olhar os deputados, não para o medo. Os portugueses mostraram que estão prontos para sair do espaço delimitado dos partidos tradicionais. E, à semelhança do que acontece em tantos países da Europa com parlamentos fragmentados e habituados a negociações e alianças, também por cá é cada vez menos rudimentar a arrumação entre Esquerda e Direita. A ampliação de sentidos e de propostas é uma mais-valia. E um recado para os grandes: não se acomodem no hábito de merecerem a confiança de milhões.
*Diretor