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A Raquel está no Twitter. Deixo o apelido de fora propositadamente. Anteontem, a Raquel afiançava um bom dia. Assegurava que ia passear na rua de cabeça erguida, sorrindo para "os falsos doentes de máscara".
O seu perfil é mais um entre muitos que propagam teorias negacionistas e de conspiração. Tem posts sobre mortes em Portugal provocadas pelas zaragatoas usadas nos testes à covid e mensagens contra as redes 5G, que "não servem para nada", exceto para o "controlo de mentes". Poderíamos encolher os ombros e clicar em frente. Só que não. Muito menos quando, a partir de amanhã, estaremos mais tempo confinados em casa, face ao recolher obrigatório que nos conduz forçosamente para mais consumo online.
Também não podemos ficar indiferentes quando nesta onda de desinformação encontramos figuras ligadas a partidos extremistas ou quando há médicos portugueses alvo de inquéritos por passarem declarações a doentes com indicação clínica para os libertar da obrigatoriedade de usar máscara. Estes movimentos são perigosos. Têm mais seguidores do que pensamos e, pior, pessoas influentes. Pessoas influentes, influenciam, independentemente de idade, sexo, cor, religião ou orientação sexual. O Mundo é demasiado precioso para estar nas mãos de qualquer um. E a verdade é que tem estado.
Se ainda há dúvidas sobre os estragos que causam, basta ler com atenção as conclusões do terceiro relatório da plataforma Code of Practice on Disinformation, uma frente da Comissão Europeia e da indústria tecnológica contra a informação falsa na Internet. O Facebook e o Instagram identificaram, apenas num mês, mais de quatro milhões de conteúdos de origem duvidosa. No mesmo período, Twitter e Tik Tok sinalizaram milhares de posts perigosos relacionados com a covid. A Microsoft bloqueou mais de dois milhões de anúncios com informação não verdadeira sobre a pandemia. O YouTube removeu 15 mil vídeos com conteúdos falsos sobre a doença.
As principais plataformas têm colocado em prática medidas para evitar ondas de desinformação. Foram postas à prova nas eleições presidenciais norte-americanas e, ao contrário de 2016, não ficaram mal na fotografia. Agora, estão a fazer o trabalho que lhes compete no combate à covid. Mas também a vitória nesta luta depende da cidadania de cada um de nós.
*Diretor-adjunto